Wednesday, June 6, 2007

Project Management e a necessidade de um Rumo

Boas,

O post anterior, do Ricardo Caldas, está engraçado e espelha a dura realidade dos engenheiros em particular e dos projectos das empresas no geral.

Eu já tive o papel de Project Manager na última empresa onde estive. O que passei foi grosso modo o que o Dilbert descreve, repetido por algumas vezes até eu próprio entrar em ruptura e não acreditar nas funções que estava a desempenhar.

Na minha opinião, eu penso que este tipo de atitude está intimamente ligada ao sector onde a empresa actua e que a frequência com que este tipo de eventos acontece está intimamente ligada com a falta de objectivos macro (Missão, Visão e Valores), típica das empresas dos sectores terceiro-mundistas (ou, melhor dizendo, condenados a médio prazo). Um exemplo perfeito em Portugal é o da Industria Têxtil.

Com a entrada do têxtil no GATT de 95 (vulgarmente chamado por OMC), depois de quase 50 anos de restrições, verifica-se a eliminação das barreiras alfandegárias aos maiores produtores têxteis do mundo e, consequentemente, à extinção (Pitra Rivoli, no seu livro The travels of a T-Shirt in the Global Economy chama-lhe "Corrida para o Fundo") da indústria em alguns países que, até aí, foram-na fazendo sobreviver à custa de incentivos múltiplos.

Assim, a entrada desses "novos" países produtores, nomeadamente China e India, na OMC, a industria têxtil tradicional cai em declínio em todo lado cuja riqueza esteja acima dos dois referidos países e força a que esses dêm o salto tecnológico, em muitos casos de uma forma abrupta.

Nos Estados Unidos, a subsidio-dependência para a industria têxtil, foi extinta em 95, à excepção da tradicional indústria de produção algodoeira onde, 200 anos depois, os EUA continuam a ser líderes no mercado global, com preços que arrasam a concorrência. A isto deve-se, sobretudo, a inovação. São líderes no rendimento, tecnologia e na dimensão das plantações. Além disto, os EUA são os únicos produtores do mundo a aproveitarem os resíduos do algodão (Para que se perceba, apenas cerca de 24% do total da colheita é efectivamente fibra de algodão. Tudo o resto são resíduos que são reprocessados e transformados em óleo, farinha e outros complementos).

Portanto, em 10 anos, a industria têxtil norte-americana passou a ser exclusivamente de produção de matéria-prima. Eles souberam "dar o salto" e continuam na linha da frente. Nós não.

Deixo aqui para reflexão o seguinte:

Desde 2004 que assistimos ao fecho/deslocalização das maiores fábricas têxteis do país. Pior que isso, e que muito poucos vêm, é o fecho da nossa industria têxtil tradicional, vulgo garagem, essa sim, verdadeiro motor do sector. Neste momento, a Globalização (o que quer que isso seja, para mim é uma entidade do género de um Deus) achou que Portugal ainda merecia mais uma oportunidade e, em 2006 iniciámos o ciclo daquilo a que eu chamo de último cartucho, recebendo encomendas em quantidades inimágináveis. O problema é que as empresas já estavam a preparar o fim. Iam-se deixar morrer, aos poucos, até que o fecho fosse inevitável. No entanto, foram aceitando essas encomendas e, neste momento, vêm-se "com o menino ao colo" porque já não têm a base da industria tradicional que os ajudava em momentos de aperto. Vêm aí os atrasos e os consequentes descontos. Portugal Têxtil está a saldo e o Governo nada faz para acabar com tudo isto de uma vez.

Na minha opinião, e como diz o Neil Youg, "It's better to burn out than to fade away"

Para saber mais:
Rivoli, Pietra, "As viagens de uma T-Shirt no Mercado Global", Editorial Presença, 2006
Wikipedia, "World Trade Organization", http://en.wikipedia.org/wiki/Wto, Junho 2007

4 comments:

Pedro Rodrigues said...

Concordo em parte com a análise que o Paulo faz do estado da Industria Textil portuguesa. Concordo quando ele diz que há muito que as empresas estão a preparar o seu fecho - estiveram a cavar a sua propria sepultura.
Onde não concordo é quando ele afirma que as empresas de "garagem" são o motor do sector e por conseguinte da economia. São essas mesmas empresas andaram a fugir aos impostos e a aumentar o fosso da economia real para a paralela. Digo eu, se talvez tivessem pago os impostos devidos, talvez não tivessemos de levar todos os meses com estes impostos que um Engenheiro alienado insiste que paguemos.

Paulo César Martins said...

Olá,

Note que digo moto do Sector, e não Economia no sentido lato do termo (que englobaria todos os sectores). Quando digo que as garagens são o motor do sector dos têxteis estou a dizer uma verdade quase insofismável.

A prova disso é que é muito raro encontrar empresas de confecção têxtil com mais do que 200 empregados (costureiras), mas que, no entanto, produzem dezenas de milhões de peças todos os anos. Na minha ultima passagem pelo têxtil, a empresa tinha duas unidades de 200 pessoas cada e produzia in-house cerca de 10% do que vendia. O restante estava espalhado por 60 subcontratados (garagens, a maior parte). Lembro que estou a falar numa das maiores empresas de confecção do País...

Olinda Maia said...

olá

Que as empresas de "garagem" são o motor do sector textil é ponto assente.
Que as empresas de "garagem" não pagam os devidos impostos, e aqui falamos, nomeadamente de,Iva,Irs,Irc,também é ponto assente. Contudo o problema é muito maior quando falamos das contribuições para a segurança social que afectam toda uma população sem direitos. A culpa aqui não morre sózinha, é culpado o funcionário que não quer descontar porque assim não perde o subsídio X, é culpado o patronato porque quer poupar 23,75% sobre as remunerações e, razão mais forte, pode "despedir" o funcionário, que para todos os efeitos não existe, a qualquer momento e sem problemas,os sindicatos que perderem força pelas politicas adoptadas, a lei laboral,..., ou seja, somos todos culpados da nossa própria situação.
Aproveito para citar Dalai Lama, " Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro amanhã. Portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."

Olinda Maia

rualbran said...

Estou certo que as empresas que operam sobre pressupostos insustentáveis vão desaparecer.
No entanto, enquanto moribundas,vão contaminando e prejudicando a "economia viável e desejável"!
Deveria ser o estado a fazer-lhes uma eutanásia, cumprindo a sua função reguladora!Assim será o mercado com as suas leis mecãnicas que as matará em agonia lenta!