Saturday, June 2, 2007

APRENDER COM OS ALUNOS (?!)




Quando pertencemos a ambientes caóticos ou complexos, a actividade de ordenar, classificar, estruturar é maioritariamente fútil. Existem mais coisas para nós desconhecidas do que o seu contrário... ocorrem quando menos esperamos, não estão nos nossos planos… atingem-nos durante a noite quando havíamos previsto que só chegassem pela manhã.

É quase impossível aplicar a ordem quando a mudança é rápida. Em ambientes complexos, os nossos movimentos primários são realizados em torno da tarefa de exercer a nossa influência e de criar os resultados que nós desejamos, a procurar que tudo isso faça sentido e a compreender a forma e a natureza de tudo quanto vamos encontrando.


Quando eu olho para os tempos iniciais das propostas de ambientes de aprendizagem individualizada (personalizada) - uma espécie de roupa pronto a vestir com possibilidade de encurtar mangas e alargar peitos - muitos dos serviços sugeridos mudaram ou desapareceram. As plataformas de eLearning evoluíram sob um ponto de vista tecnológico, quase como o que se passou entre o Sputnik e o Space Shuttle. Trabalhar em ambiente Moodle ou Blackboard transporta-nos para possibilidades de criação, quase ilimitadas, no que se refere aos sonhos dos professores.

O que não evoluiu, em termos temporais, foram as estratégias colaborativas, através das quais nós podemos (em potencial) avançar séculos de ensinamentos, quando nos abrimos ao saber dos outros.

Ou seja, o desencanto com a quebra das expectativas vislumbradas por esta ferramenta fantástica que é a composição: computador + software + infraestrutura de comunicações, não tem que ver com produtos, tem a ver com a nossa falta de domínio da criatividade de base tecnológica.


Tecnologia: esta palavra tornou-se um mito.


A tecnologia, é como a beleza: quem a tem fica obcecado por conservá-la. Quem não a tem, vive frustrado e não sonha senão em adquiri-la.

De uma forma bizarra, quando se escutam as teorias e se participa nas discussões, percebe-se o quanto nos incomoda a imprecisão e a diversidade de sentidos atribuídos a este termo.

Ciência, engenharia, investigação e desenvolvimento, investigação básica, investigação aplicada, desenvolvimento de produto, tecnologia , tantos vocábulos que designam segmentos de um vasto universo de actividade técnica, para o qual não existe nenhuma etiqueta dita geral e abrangente.

Imagino Jardim Gonçalves, Teixeira Pinto e Jo Berardo, dirimindo entre si, a possibilidade do BCP ser um exemplo no domínio da tecnologia financeira.

Óbvio, existe uma visão clássica sobre o que é a tecnologia e também há uma visão actual. Perversamente, faço de conta que não tenho nenhuma proposta sobre a definição de tecnologia; como é que é meu povo? Fragmentada ou integrada???



Estivemos ontem no jantar Atlanticidades: eu, a Carla, a Fátima, mais uma quantidade de maduros e maduras (em termos de pensamento) e a Fátima precisou de perguntar cinco ou seis vezes o que é que eu ensinava nas aulas de Inovação. Embora a cultura portuguesa privilegie o negócio à mesa, eu tive alguma dificuldade em vender o produto à minha amiga Fátima.


Comecei com a 'economia da inovação' e a minha interlocutora, economista de profissão, teve dúvidas (muitas) sobre o meu balbuciar entre uma rodela de tomate e uma folha de alface.


Ao longo dos 91 km que tive de percorrer no regresso a casa, esforcei-me por demonstrar, quer à máquina que distribui o ticket na autoestrada, quer ao rádio que amigavelmente me acompanhava, a (não) facilidade com que se consegue comunicar umas dúzias de ideias sobre o que nós fazemos (Ah! Ah! fazemos…) e o quanto estudamos a temática da inovação.


É bom encontrar antigos e novos alunos que questionam incansavelmente, o nosso (difuso) saber. Obrigado Fátima, um abraço!

7 comments:

juanitarebelo said...

Acho sempre curiosas as voltas que dá ao texto e da quantidade de coisas a que se refere fazem me sempre lembrar imensas situações.

Começando pelo princípio, "organizando ideias", de facto no caus é difícil haver este equilibro e organização, lembro-me que quando fiz voluntariado em Maputo.
Estive num orfanato, em que eram cerca de 150 crianças desde poucos meses até 8 anos, com ou sem doenças, deficiências, etc, e tinham apenas 4 ou 5 auxiliares voluntárias.

Nós quando chegamos lá parecia a guerra, mas não deu para organizar, estruturar ou pensar muito, havia necessidades básicas a satisfazer e a inovação aí, passava por encontrar uma forma de alimentar e dar banho ao maior numero de crianças possível em menos tempo, e encontrar formas de as fazer aderir todas a uma mesma actividade....só pensávamos em quem lá estava todo o ano, no entanto demonstravam uma calma e descontracção fora do normal, dada a situação:)

Num outro momento quando se refere à quantidade de equipamentos, instrumentos, novas tecnologias de que os professores, formadores, educadores, enfim todos nós dispomos, com grande satisfação e entusiasmo. No entanto, por vezes a informação é preparada meticulosamente com o boneco “x” e o tipo de letra “y”, com um fundo de cor “z” pois ajuda a concentrar e na hora da verdade a interacção fica entre quem elaborou os belos diapositivos e a sua magnifica obra de arte, contemplando a sua mestria!!!

E o aprender partilhando, o pensar em conjunto, o ter espírito crítico, ficam para trás!
Enfim eu acredito na inovação partilhada, não desfazendo a fragmentada, pois haverá momentos em que qualquer uma se revela mais oportuna, mas a verdadeira aplicação quanto a mim está no todo e não apenas na soma das partes!!!

Alexandre Sousa said...

Meia Volta ou Volta & Meia?
Durante muitos anos, estudar curvas era o meu passatempo favorito, desde que não tivesse um adversário do tabuleiro 8x8 por perto.
Uma das curvas que ficaram para sempre gravadas, sem ser tatu, no meu lóbulo frontal, foi a espiral.
Serve?

RC said...

Na minha opinião, o caos é uma forma desordenada de ordenar o universo, que potencia a criatividade e a inovação. Permite que possamos fugir do âmago do problema, dar largas à imaginação e voltar para o resolver.

As padronizações (ou standard) facilitam a vida ao humano mas reduzem-lhe a capacidade intelectual de resolver o problema.

Pelo que o caos criado numa aula, ou numa outra situação qualquer é no meu entender essencial para recolocar o cérebro a funcionar e a criar.

sofia peixoto said...

O ser humano gosta de tudo o que é previsivel , seguro, certo..gosta pouco de mudar...
Daí que, construa respostas "modelo" para as situações. Essas já foram testadas, pelos individuos, e já sabem qual irá ser o resultado de determinado comportamento, fazendo de tudo para que o rico e a incerteza tenham quase uma probabilidade de quase 0%. Este tipo de comportamento, baseado em padrões já previamente difinidos, assemelha-se a uma espécie de "mecanicismo", resultante da ideia de " Se isto é assim, se eu sempre fiz assim, para quê que hei-de mudar?" A meu ver, a padronização de comportamentos, é uma falsa "amiga", na medida em que, empurra o indíviduo para a rotina, para a repetição, para a monotonia, "tapando os olhos" ao individuo,"sofucando" a possibilidade de este ver mais longe!...
Em contrapartida, a meu ver, o caos serve de "pano de fundo à evolução"! É a matéria-prima para o desenvolvimento e para a inovação! Permite ao individuo desenvolver a sua capacidade intelectual, explorar novas capacidades, po-lo à prova, desafiando-o! Deste modo, as coisas não tem de ser certas e previsiveis!
Agora, no que diz respeito "Aprender com os alunos(?!)... Todas as situações são boas para aprender. Para tal, basta não as encararmos segundo "A lei do menor esforço", caindo assim na questão da padronização, que já referi, mas sim, olhar para uma situação e ver o que posso extrair de novo! Apelando à imaginação, à criatividade, sempre crendo inovar!
Para isso é necessário aproveitar o caos, neste caso numa sala de aula, como ponto de partida rumo a novas descobertas!!!!
Sofia Peixoto

Carla Ferreira said...

Olá!

Começando por comentar algo que o professor disse: "É bom encontrar antigos e novos alunos que questionam incansavelmente, o nosso (difuso) saber." --> na pouca experiência de vida que tenho, tenho aprendido que só sei o que sei quando sou questionada acerca daquilo que julgo saber... e isto porquê? Tiram-se tantos cursos, fazem-se tantas formações, pesquisa-se tanta coisa, mas muitas vezes não paramos para percebermos e assimilarmos aquilo em que estamos a investir horas, dias, anos das nossas vidas... Muitas vezes, trabalha-se para o resultado do momento (um exame, por exemplo)e não para a consistencia dos nossos saberes. E chega o dia em que alguém, sem que estejemos a contar com isso, nos questiona sobre aquilo que genuinamente pensamos conhecer... Felizmente, na maior parte das vezes sentimo-nos confortaveis com esse confronto. Contudo, o contrário também pode acontecer... E reparem: "quanto mais sei, mais sei que menos sei"!...

Quanto à questão da inovação... ela só passa por nós se nós o permitirmos, se estivermos suficientemente abertos às novas experiências, e essas não "nos caiem dos céus aos trambolhões"! Sinto que até para inovar é preciso algum esforço, por mais pequeno que ele seja, mas por vezes acostumamo-nos às desculpas do quotidiano... Frequentemente também temos o medo do desconhecido, e por mim falo. É muito complicado deixarmos a nossa zona de segurança e arriscarmos assentar o pé em chão que não conhecemos. A forma, os meios, e as técnicas de aprendizagem têm sofrido enormes alterações graças ao desenvolvimento da técnologia e hoje, não só os adultos de gerações anteriores têm alguma resistência a adaptar-se mas também os jovens de hoje.


Carla Ferreira :)

rualbran said...

Quanto a aprender com os alunos, hoje não tenho dúvidas de que em qualquer ambiente nunca há ninguém que não saiba algo para nos ensinar!A inovação no ensino é mesmo passar o centro de gravidade do professor para o aluno, em sinergias e feedbacks activos, sem supremacias ou preconceitos.Quem tem mais experîencia por anos, é um geronte com muito para transmitir.Mas os menos usados pelo tempo têm outras experiencias, igualmente válidas.~
Colaboração geracional e nunca choque geracional!A inovação não é função inversa da idade, e esta é muito mais mental que cronológica!

Marisa Pinto said...

A prepoósito do título, lembrei-me de uma frase que uma professora há alguns anos citou: "o verdadeiro mestre é aquele que duvida do que ensina" ...desconheço o autor, mas era certamente um sábio!