Monday, May 28, 2007

Será possível inovar na entrega da educação (formação)???




A educação é um produto (serviço) que tal qual nos aparece disponível, está em permanente interrogação.

Uma nova proposta para ensinar conceitos ecológicos é uma inovação.

Entregar os objectos de ensino, materiais, questões ou exercícios antes de nos reunirmos na sala de aula, também pode ser (ou não) uma inovação.

Pensar num novo método de desenvolvimento da lição pode ser uma invenção, numa perspectiva de criação de uma ideia potencialmente geradora de benefícios, ainda não necessariamente realizada de forma concreta em produtos, processos ou serviços.


Eric Mazur é professor na célebre escola de Harvard e tem sido muito procurado por uma inovação que, não retirando qualquer centelha de valor à sua proposta, em verdade, verdade se diga, tem muito de um ensino praticado outrora pelos mestres gregos na antiga Atenas.

Este novo método caracteriza-se pelos seguintes aspectos:

- os alunos procuram ler (previamente) os materiais que estão na planificação da aula;

- o professor discorre sobre os conceitos que fazem parte da lição, ocupando nessa tarefa blocos de discurso e explicação que não ultrapassam 5 a 10 minutos;

- ao longo da sessão, desencadeiam-se debates proporcionados por pares de alunos que discutem uma proposta do professor, e que constituem um teste à compreensão dos conceitos em estudo.


Foi sobre esta forma de ensino, em que trabalha há já 15 anos, que Eric Mazur veio falar numa conferência integrada no ciclo dedicado à Educação promovido pela Fundação Serralves (15Maio2007).

Mazur é um comunicador (de ciência); como tal, esteve durante mais de hora e meia, atento a todas reacções da sua audiência, a percorrer o palco de um lado para o outro (nada de ler dissertações sem levantar os olhos do papel) sempre pronto a responder a todas as perguntas do público (que correspondeu como deve ser).

Na noite de 15 de Maio, Mazur falou, então, de educação de ciência, limitando-se a algo muito simples: mostrar como, depois de alguns anos a debitar matéria, "abriu os olhos" e percebeu que era um mau professor.

Quais foram, então, os problemas que viu? Em primeiro lugar, os alunos, mesmo os de Harvard (e atenção que Mazur alerta para a reputação sobrestimada que os alunos de Harvard gozam), achavam os cursos de introdução à Física uma «seca», coisa que Mazur achou inacreditável. Como é que isso podia acontecer? Verificou, então, que a Física era ensinada da mesma forma que era há um século atrás e, no entanto, os estudantes tinham mudado radicalmente. Em segundo lugar, percebeu que as demonstrações que fazia nas suas aulas não eram eficazes, o que é muito bem explicado pela psicologia cognitiva: nós aprendemos não pela observação de factos, mas pela integração destes em modelos conceptuais determinados.

Foi, então, que Mazur leu uma série de artigos de Halloun e Hestenes que, segundo ele, lhe abriram os olhos. Mazur deu aos seus alunos um pequeno teste desenvolvido por Halloun e Hestenes. A surpresa veio do céu, quando descobriu que os alunos nem sequer percebiam o que se pretendia com cada pergunta.

Passado pouco tempo, Mazur chegou aos seguintes resultados: 40% dos alunos de Harvard resolvem problemas de Física sem os perceber realmente, ou seja, as coisa correm bem nas perguntas sobre resolução de problemas e mal nas perguntas conceptuais. Por outras palavras, como disse Mazur, "são óptimos alunos em álgebra e cálculo, mas não em Física, já que esta não é uma disciplina em que basta aplicar fórmulas".

Constatou ainda que, quem se sai bem nos problemas conceptuais, acerta também nas perguntas sobre a resolução de problemas.

Mais responsabilidade para os alunos

A solução que Mazur procurou foi uma forma de concentrar a atenção dos alunos nos conceitos subjacentes aos fenómenos físicos, sem deteriorar a sua capacidade de resolução de problemas.

O método Peer Instruction , segundo Mazur, é não só mais eficaz para os alunos como torna a actividade docente "mais fácil e com retorno".

Mas como é uma aula de Mazur?

Eis a «receita» que não conta para a avaliação dos alunos.

1. Coloca-se uma questão (1 minuto)

2. Dá-se tempo aos estudantes para pensarem na resposta (1 minuto)

3. Os estudantes registam a sua resposta

4. Os alunos discutem entre si as respectivas respostas tentando convencer o colega de que a sua resposta é a correcta (peer instruction)

5. Os alunos voltam a registar as suas respostas já revistas

6. Os alunos comunicam as suas respostas ao professor

7. O professor dá a explicação correcta (2 ou mais minutos)

Se a percentagem de respostas correctas for muito baixa, Mazur diz que abranda o ritmo a que está a leccionar e volta atrás na matéria, repetindo a abordagem para o mesmo tópico. Os resultados obtidos por Mazur indicam que a grande maioria tem as respostas certas após a discussão com os colegas. A explicação parece ser simples: "Após alguns anos de ensino, os professores esquecem-se das dificuldades de quem é aluno. Ora, os próprios alunos sabem que dificuldades são essas e, por isso, conseguem explicar melhor do que o professor uma determinada resposta ao seu colega".

Observação

Parte destas notas provêm do bloco de Filipa Ribeiro

8 comments:

juanitarebelo said...

Boa noite!!!!

Achei de facto esta perspectiva de ensino muito interessante.
Eu concordo plenamente, não que se dê a informação por exemplo antes da aula, mas um tema que implique pesquisa, e o debate nas aulas fundamental.

No decorrer da minha experiência em Erasmo 1 ano em Inglaterra, deparei-me com um sistema de ensino bem diferente, quer pelo numero reduzido de aulas, o que implicava um maior estudo orientado pelo aluno, e uma forma de leccionar e aprender muito mais interactiva.

Por exemplo, numa das disciplinas, no início das aulas a professora entregou um artigo (por grupo de 2 pessoas) acerca de temas a serem abordados ao longo da disciplina e no início de cada aula, um grupo apresentava resumidamente o seu artigo, pelo que ficávamos todos com conhecimento da informação sem ter necessariamente de ler tudo, e isso introduzia o tema da aula.

Noutra, a professora tinha as aulas divididas por temas e a maior parte das aulas eram dadas pelos alunos em grupos que estudavam um tema que lhes interessasse e cada um procurando cativar e ser original na forma de explanar a informação (filmes, simulações, teatros, debates, etc) dava a aula e havia sempre debate quanto mais não fosse de formas de comunicar e melhorar a própria apresentação.

A maioria dos professores fazia exactamente muitas questões, debates e assim íamos formulando ideias acerca das diferentes áreas abordadas.

Sem dúvida que implica maior esforço por parte dos alunos porque nos põe a PENSAR.

A minha percepção sobre o ensino português é que de facto nos dão a informação "mastigada" e só temos de engolir, e se facto sejamos muito participativos cortam-nos a palavra pois o tempo é pouco e os programas extensos, ao que as pessoas não estão habituadas a pensar por si mas pelos outros, o que irritava profundamente.

Contava uma rapariga que estava a acabar o curso em NY e tinha conseguido um cargo excelente numa empresa muito conceituada que isso não era muito difícil, quando toda a gente a lhe dava os parabéns considerando ser um grande feito, ao que ela respondia que os melhores criavam logo o próprio emprego.

Todo este espírito de responsabilização, empreendedorismo, confiança, capacidade de pensar, procurar, descobrir o seu próprio caminho, é muito interessante e motivador.

Lembro-me ainda que em Inglaterra, as pessoas andavam numa confusão de turmas, pois cada um quase que fazia o seu curso, pois escolhiam cadeiras de psicologia, sociologia, educação, e iam direccionando para as áreas de intervenção que queriam seguir, sendo cada um muito mais responsabilizado pelo seu percurso e por isso também mais motivado. Um sistema de facto diferente.

E não posso deixar de dizer que apesar do processo de bolonha se calhar vir revolucionar o ensino de muitas formas, sendo por vezes esta adaptação feita "muito em cima do joelho" em alguns cursos com que tenho tido algum contacto, tem já demonstrado resultados positivos, sendo mais trabalhosos, mas eu vejo as pessoas com outra dedicação, motivação e aprofundam de facto conhecimento em áreas QUE MAIS LHES INTERESSAM E COM QUE SE IDENTIFICAM, de outra forma.

Ainda nos EUA as pessoas são impelidas a ser criativas, a encontrar o seu lugar na área que escolhem. Por exemplo, na área da psicologia, que está deveras explorada, cada psicólogo ou terapeuta para "vingar" tem de fazer algo diferente do outro, por isso havendo apoios para as situações/realidades mais especificas e cada um sabe muito de uma matéria que por vezes parece muito pormenorizada, mas num universo com aquela dimensão faz todo o sentido.

Lembro-me de uma assistente social (que tinha muita experiência em viajar, fazendo-o principalmente sozinha, com grande espírito aventureiro) à uns 10 anos, começar a dar formação ou aconselhar pessoas que queriam viajar sozinhas por um longo período de tempo, pois é necessária preparação a vários níveis, tipos de pesquisas e recolha de informação sobre onde ir , o que querem fazer ou procuram e sobre o estar consigo próprio, este foi o nicho de mercado que ela encontrou a descoberto e teve uma grande adesão.

Bem, continuaria a dar exemplos e contar histórias relativas a formas de ensino com que vou lidando e os resultados que isso tem na forma de ser e estar das pessoas, pois as repercussões são grandes. E nós temos os pequenos exemplos daqueles professores de que gostamos imenso e que ainda hoje recordamos, da mesma maneira que a matéria que eles leccionavam parece que ainda está gravada, é interessante perceber estes fenómenos. Pois recordo uma história engraçada com um professor de português (eu que odiava a escola e estudar) e até ás aulas extra deste professor ia, porque de facto sentia que aprendia com ele e divertia-me ao mesmo tempo.

Acho que fico por aqui senão estou toda a noite a falar para o PC!....bem isto já me dava para falar sobre o que acredito ser uma grande desvantagem das novas tecnologias - o isolamento, mas isso são "outros quinhentos" :)

Até breve
Joana Rebelo

Anonymous said...

Viva Joana, bom dia!

Vou preparar a intervenção da Ivone + esta (sua) para compor um post; assim terá a visibilidade que merece.

RC said...

Boa noite,

Concordo plenamente com o que foi aqui dito. É muito mais entusiasmante e um excelente exercício de manutenção para o cérebro ter de preparar as aulas que vão ser leccionadas à posterior.

Contudo acho que em Portugal o método não consegue ser implementado na sua plenitude enquanto o problema cultural não for resolvido. Existe um problema cultural, porque entre o povo e os próprios professores está assumido que só com muitas aulas (teóricas de preferência) e muitos livros para DECORAR é que se aprende.

E podemos constatar isso no nosso MBA e para o qual desde já chamo a atenção ao Professor para o facto. Não nos dão tempo para preparar as aulas, não há esse tempo. Tal como no exercício que foi realizado na aula, eu próprio me considero uma pessoa pouco inovadora porque não tenho tempo para o ser. Tenho de ter tempo para agradar o patrão, para olhar para a familia, para ter uma "porrada" de aulas, mais trabalhos para as disciplinas e anda conseguir no meu trono de fuga ler qualquer coisa para me manter actualizado.

O método não consegue ter sucesso em Portugal, enquanto as pessoas não se mentalizarem que não é pela quantidade de aulas mas sim pela qualidade e pelo que ela provoca antes, durante e após, no aluno. O aluno tem de sentir que aprendeu algo novo, que consegue ouvir e falar na aula e que no final da mesma consegue sentir-se uma pessoa um pouco diferente.

______________
Tenho dito.

Anonymous said...

Esta discussão sobre o que deve ou não deve ser um MBA é muito séria para ser esgrimida apenas no Blog.
O Blog é excelente para nos deixar uns tópicos de reflexão e alarme, no entanto o brainstorming tem que ser realizado fora e face a face.
Mas que tem de se fazer, oh! Ricardo, tem mesmo...

RC said...

Claro que sim e eu estou disposto a faze-lo. O meu ponto de vista é a do aluno que quer fazer render o tempo e dinheiro investido. Não quero criar polémicas mas estou disposto ao face a face para discutir o assunto.

Cumprimentos.
____________
Tenho dito

MJMatos said...

Por que é que não incluem na discussão a aprendizagem autónoma, que é, afinal, o objectivo último da educação superior? Parece-me ser essa a chave de leitura correcta para esta questão.

Olinda Maia said...

Boa tarde

A forma de ensino apresentada é motivadora para todos os interessados. Em I&C já foi aplicada e todos,penso eu, gostamos. O tempo ou melhor a falta dele, está cada vez mais no papel de culpado.Sim porque tem que haver sempre um culpado, eu é que não.
Mentalidade enraizada no deixa estar alguém faz, copiar dá sempre resultado e outras "parvoíces" da actualidade, já muito antigas, deixa a nossa mente dislumbrada pelos canudos e não pelo saber.

Gestão do tempo,autoaprendizagem, autodisciplina e outros "auto qualquer coisa", significa para mim que tudo depende de nós mesmos e não dos outros. Aplicando a Teoria x e y de MacGregor, não podemos quer ser y e ter um comportamento x.

Olinda Maia

Olinda Maia said...
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