Monday, September 24, 2007

Inovação – expandir a disciplina – parte 2

Um programa com alguma massa e um certo volume apreciável, será uma espécie de interpenetração entre a inovação tecnológica baseada num conhecimento de ciências naturais e o governo da execução societal dessa inovação. O programa visa um mínimo de 50% de ciências naturais ou de cursos tecnológicos, a fim de permitir que os estudantes consigam manter um diálogo crítico com cientistas e engenheiros.

A indicação da missão pode ser especificada sob a forma de protótipo:

  • O programa deve ser entendido como destinado a uma equipa de estudantes com um nível de conhecimento e um conjunto de aptidões/habilidades que lhes permita contribuir de modo útil para a realização de processos da inovação que ocorrem na interface das ciências e da tecnologia, por um lado, e entre as organizações e a sociedade, por outro.
  • O programa destina-se a permitir aos estudantes ganhar introspecção no decurso de processos da inovação no comércio e indústria, nos processos da administração pública e outras organizações que servem a sociedade, a fim de que possam desenvolver estratégias de redução de incertezas, controlando a dinâmica destes processos.
  • O programa contribuirá consequentemente, para realizar melhorias na harmonia entre oportunidades da ciência e da tecnologia e os desejos das organizações e da sociedade vistas como um todo.

Este enunciado da missão concentra-se na gestão da inovação, porque os processos da inovação em diferentes níveis da agregação são mutuamente dependentes, complexos e apenas compreendidos parcialmente. O autor concorda que para uma melhor compreensão destes processos e das possibilidades de serem geridos, há uma necessidade de que as pessoas possam construir pontes entre o que é cientificamente
e tecnologicamente praticável, e o que é desejado e praticável desde uma perspectiva organizacional e societal.

Sunday, September 23, 2007

Ciências da Inovação – a expansão da disciplina –




A importância para a sociedade da inovação, e para os programas da instrução e da investigação nessa área, necessita ser discutida, arduamente. Entretanto, tais programas enfrentam um razoável número de desafios. Necessitam ser interdisciplinares, combinando elementos tais como a tecnologia, mercados, organizações e instituições. Enquanto no passado havia uma ênfase na mudança tecnológica, nos anos mais recentes houve um reconhecimento crescente dos aspectos não-tecnológicos da inovação.
De facto, esta introspecção sempre fez parte das noções básicas sobre inovação propostas pelo economista Schumpeter: a inovação envolve a realização técnica e comercial de uma invenção, e pode dizer respeito quer à tecnologia mas também aos pontos de partida, ao marketing e à organização.
Entretanto, porque a tecnologia é ainda uma parte indispensável da ciência da inovação, devemos manter parte da compreensão básica da tecnologia. Muitos sentem que uma compreensão apropriada da tecnologia requer formação básica das ciências exactas subjacentes (matemática, física, química, biologia). Visto que tal preparação pode ser proveniente de currículos iniciais, que fizeram parte da instrução secundária, aquela pode não dar suficientes garantias, e isto impõe algum rigor adicional aos programas da educação superior sobre a inovação.
Uma vez que a tecnologia tem uma base na ciência natural, enquanto que a organização, os mercados e as instituições tiverem a sua base nas ciências sociais, os estudos da inovação requerem uma combinação de ciências (β) beta (‘hard’) e (γ) gama (‘soft’), com respectivas diferenças no ‘outlook’, no estilo e no método. Isto torna-se um problema fundamental para programas dos estudos da inovação. É útil mas também difícil para os estudantes, a construção de uma ponte entre os campos (β) beta e (γ) gama, e isto não se consegue facilmente, devido ao facto de que é difícil encontrar a equipa de professores/formadores que tenha experiência em ambas as áreas. Além disso, há também escolhas a ser feitas dentro dos campos (β) beta e (γ) gama.
Na análise da organização e mercados, cada um deve idealmente combinar a economia, sociologia e psicologia, e os campos baseados naquelas disciplinas, tais como o marketing e o comportamento organizacional. A Sociologia é necessária para compreender os efeitos da estrutura social, tais como as redes sociais (networks de pessoas) e redes de empresas, que são vistas cada vez mais como cruciais para a inovação. A Psicologia, inclui a psicologia social, necessária para compreender a motivação e a tomada de decisão, por empreendedores, produtores e consumidores, sob a incerteza da inovação.
Provavelmente, devemos expandir a escala das disciplinas para incluir a ciência cognitiva, porque se o conhecimento, a aprendizagem e a colaboração forem cruciais na inovação, e nós falarmos da «economia do conhecimento» devemos ou não incluir ciências da cognição e da linguagem? Tais combinações de disciplinas dentro do campo (γ) gama não são fáceis. Mesmo dentro da economia e da sociologia há divergência nas escolas rivais do pensamento. Dentro da economia há campos da economia (nova e antiga) neoclássica, evolucionista e institucional. No âmbito da sociologia existe diversidade de campos: população, ecologia, redes, escolhas racionais e sociologia configuracional ou interpretativa. Todos podem ter contribuições a dar.
A inovação está intimamente relacionada com empreendedorismo, o qual por si só, deu origem a uma literatura que ‘explodiu’ ao longo dos últimos 15 anos. Dentro da ciência e da tecnologia há uma variedade de campos e indústrias relacionadas: produtos químicos e farmacêuticos, biotecnologia, TICs, software, mecânica, sensores, robótica, nanotecnologias, novos materiais, etc. Devemos optar por aprofundar razoavelmente o tratamento de uma ou duas tecnologias (‘focalizando’), ou escolhemos uma abordagem mais superficial e numa escala mais larga (‘âmbito’)?
Finalmente, há também uma escolha a ser feita a respeito do nível da agregação: nível macro (inter)nacional da política de inovação, o nível meso das indústrias e dos mercados, e o nível micro das empresa ou dos projectos.
Em suma, o conteúdo das ciências da inovação varia em cinco dimensões:

• Beta science: matemática, física, química, biologia, …
• Tecnologias: químicas, biotecnologias, software, TICs, novos materiais, nanotecnologias, robótica, …
• Gamma science: economia, sociologia, psicologia social, ciência cognitiva, …
• Aspectos da inovação: instituições, sistemas de inovação, empreendedorismo, gestão estratégica, marketing, organização (estrutura e comportamento), recursos humanos (RHs), …
• Nível de agregação: macro, meso, micro.
Observe-se que nem todas estas dimensões são independentes. Deixar cair o nível micro pode significar eliminação da gestão, o marketing, organização e RHs estratégicos.
Podemos combinar todos estes elementos ao manter a coerência e a profundidade, e conseguimos alinhar tudo isto no tempo disponível? Parece claro que há escolhas que têm de ser feitas: não podemos fazer tudo. Em termos aproximados, podemos trabalhar transversalmente, por exemplo, cobrindo indústrias múltiplas e campos da ciência correspondentes, se o comprometimento for com a profundidade, então devemos estudar mais profundamente um ou dois sectores industriais, mesmo que fique comprometido o estudo feito à ‘largura’.

Thursday, September 20, 2007

Aprendizagem da Filosofia




Diz António Sérgio, tradutor da obra de Bertrand Russel: “Os problemas da Filosofia”

Ao aprendiz de filósofo (ao jovem aprendiz, pretendo eu dizer, e na minha qualidade de aprendiz mais velho) rogo que se não apresse a adoptar soluções, que não leia obras de uma só escola ou tendência, que procure conhecer as argumentações de todas e que queira tomar como primário escopo a singela façanha de compreender os problemas: de compreendê-los bem, de os compreender a fundo, habituando-se a ver as dificuldades reais que se deparam nas coisas que se afiguram fáceis ao simplismo e à superficialidade do que se chama senso comum (...).

Ora, se o fundamental da filosofia é de facto a crítica, e se, pois, a filosofia deve ser estudada não pelo mérito das respostas precisas sobre um certo número de questões primárias, senão que pelo valor que em si mesma assume, para a cultura do espírito, a mera discussão de tais problemas, segue-se que é ideia inteiramente absurda a de se dar a alguém uma iniciação filosófica pela pura transmissão das respostas precisas com que pretendeu resolver esses tais problemas um determinado autor ou uma certa escola. Deverá pois a iniciação filosófica assumir um carácter essencialmente crítico e consistir num debate dos problemas básicos que não seja dominado pelo intuito dogmático de cerrar as portas às discussões ulteriores. (...) .

Repito: seja a filosofia para o aprendiz de filósofo não uma pilha de conclusões adoptadas, e sim uma actividade de elucidação dos problemas. É esta actividade o que realmente importa, e não o aceitar e propagandear conclusões. (...) Por isso mesmo, ao lermos um filósofo de genuíno mérito, de dois erros opostos nos cumprirá guardar-nos: o primeiro, o de nos mantermos aí eternamente passivos e de tudo aceitarmos como se fossem dogmas, de que depois tentaremos convencer o próximo; o segundo, o de criticarmos demasiado cedo, antes de chegarmos à compreensão do texto. Para evitar o escolho do segundo erro, á atitude inicial do aprendiz de filósofo deverá ser receptiva e de todo humilde.

Se achar uma ideia no texto de um Mestre que lhe pareça de fácil refutação, conclua que ele próprio é que a não percebe, e que o pensar do autor deverá ser mais fino, mais meandroso, mais facetado, mais verrumante do que ao primeiro relance se lhe afigurou: e que se lhe impõe portanto uma atenção maior (...) e o melhor processo, nessa primeira fase, é talvez o de refazermos por iniciativa nossa, com exemplos familiares da nossa própria experiência, a doutrina exposta pelo autor que estudamos, até que a tenhamos como coisa nossa, porque feita de matéria verdadeiramente nossa, e reconstruída pelo nosso espírito.

Sunday, September 16, 2007

Tecnologias de Ensino ou Tecnologias de Aprendizagem?


Tive uns dias fantásticos durante esta semana, de que dei conta no blogue da educação superior, mas regresso aqui a este espaço, pouco procurado, nada comentado, mas importante para mim como bloco notas para registo de ideias e experiências que possuem uma base de ausentes sim mas contabilizáveis.

Estive presente durante sete horas numa sala de aula onde se debateram métodos e técnicas para incluir os estudantes no contexto da lição e sobretudo participar da instrução. Já deram conta que esta palavra praticamente desapareceu do vocabulário do eduquês?

Já depois da sessão e como os meus amigos Felder & Brent não regressaram logo aos States, tivemos possibilidade de continuar a comentar estas coisas. É um facto indesmentível que todas as universidades e politécnicos gastam uma fatia do orçamento na montagem de estruturas de apoio a toda a máquina de eLearning com que se adornam folhetos e anúncios susceptíveis de argumentar no sentido de que a minha escola é melhor do que a tua. Raramente se escreve isto, por isso é que os blogues têm a sua importância, mas não é conhecido nenhum caso de sucesso no espaço nacional, que consiga evidenciar as supremas vantagens e benefícios dos chamados LMS ou ‘learning management systems’. Este palavrão, disponível como não pode deixar de ser na wikipedia, designa um sistema informático cujo objecto é a administração da aprendizagem efectuada sob o suporte da WEB.

Como dinossáurio estou com estas coisas desde há 20 anos atrás, quando tudo eram promessas e a ignorância tamanha, de tal modo que todas as barbaridades eram permitidas. Essa tarimba e a quantidade astronómica de erros cometidos deram-me pele de sapo. Hoje, não tenho qualquer pudor em apontar a dedo a escassíssima minoria que faz uso da tecnologia como espinha dorsal da sua disciplina educativa, dominadores de plataformas sejam WordPress sejam Moodle, mas que não conseguem dar ‘o grito de Ipiranga’.

Estas tecnologias são do tipo ‘institution-centric’ e verticais por natureza.

Não é verdade que os estudantes usem o chamado «ambiente de aprendizagem» durante o seu tempo de trabalho nem durante o seu tempo livre.

Durante a nossa sessão de ‘Outcomes-based education’, Richard Felder perguntou à audiência (168 professores universitários e politécnicos) plena de especialistas educacionais: -“how many of you use a LMS for your personal learning?”. Surprise. No hands.

Tecnologias do Software Social são diferentes. Blogues e wikis têm vindo a ser realmente implementadas por aprendentes, eles mesmos. Podemos chamar a isso Personal Learning Environments (PLE) se queremos reforçar a característica ou ponto chave de que são, efectivamente, tecnologias desenhadas para servirem de base ao utilizador e não ao administrador da educação/formação

Monday, September 10, 2007

Barbies & Batmans & problemas muito sérios



Do BLOG http://humberto-felipe.blogspot.com/

foi extraída toda a informação que se segue, com devida vênia aos respectivos autores, mas de facto isto é demasiado sério para não registar, meditar, e sobretudo actuar!

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O recall de mais de dez milhões de brinquedos da Mattel nos EUA ao longo das três últimas semanas fez mais do que chamar a atenção para a vasta gama de produtos da empresa, entre os quais há vários muito conhecidos como Elmo, Ênio, Garibaldo, Barbie e Batman. Despertou também a consciência do público para problemas de controle de qualidade dos fabricantes chineses e para o esforço incansável de corte de custos em todas as fases da cadeia de suprimentos. A Knowledge@Wharton analisa a reação da Mattel à crise, as possíveis conseqüências negativas disso e as implicações para a China.

Quando lhe perguntaram se uma das bonecas mais famosas do mundo seria afetada pelos recalls de mais de dez milhões de brinquedos pela Mattel nos EUA nas últimas três semanas, Stephen Hoch, professor de Marketing da Wharton, deu a seguinte resposta tranqüilizadora: “A Barbie é à prova de bala.”

Resta saber se é possível dizer o mesmo em relação a Mattel. Embora muitos observadores elogiem a empresa por responder prontamente à crise — com desculpas do CEO e a promessa de introduzir controles mais rigorosos de segurança na fabricação dos produtos. A Mattel enfrenta vários problemas, como custos substanciais associados ao recall e a novos sistemas de monitoramento, possíveis ações e um golpe em sua reputação bem na hora em que a temporada de compras está prestes a começar.

O fato é que os dois recalls da Mattel tiveram conseqüências muito além da revista feita pelos pais no baú de brinquedos dos filhos em busca de possíveis produtos perigosos. Eles colocaram sob lentes microscópicas poderosas questões há muito não resolvidas: a situação do controle de qualidade na China e a tendência inexorável de corte de custos na cadeia de suprimentos. “Não há dúvida de que o ‘baixo custo’ tem um custo”, diz Marshall Meyer, professor de Administração da Wharton e especialista em China. “Trata-se de problemas de um alcance muito maior do que imaginávamos.”

Desculpas rápidas
As dificuldades da Mattel procedem de duas fontes: pintura com presença de chumbo e pequenos ímãs. No dia 2 de agosto, a empresa anunciou o recall de 1,5 milhão de brinquedos da Fisher-Price cuja pintura continha chumbo — Ênio, Elmo, Dora, a Exploradora, e Garibaldo, entre outros. O chumbo, se ingerido ao longo do tempo, pode causar sérios problemas no desenvolvimento de crianças pequenas, além de vários outros problemas de saúde. Em 14 de agosto, a Mattel anunciou um segundo recall ainda maior de produtos com pintura contendo chumbo num total de 436.000 carros “Sargento” (253.000 nos EUA e 183.000 fora dos EUA). A empresa recolheu também cerca de 18,2 milhões (9,5 milhões nos EUA) de bonecas Barbie, Polly Pocket, Doggie Day Care e Batman, além de acessórios cujos ímãs, muito pequenos, porém poderosos, podiam se soltar e, se engolidos, atrairiam um ao outro provocando perfurações no intestino.

No recall anunciado em 14 de agosto, a Comissão de Segurança de Produtos de Consumo (CPSCP, na sigla em inglês) informou que os ímãs tinham “1/8 de polegada de diâmetro e achavam-se embutidos nos pés de algumas bonecas, em roupas de plástico e outros acessórios, de modo que pudessem aderir à boneca ou à sua casa. O anúncio dizia também que houve relatos de “ferimentos sérios causados às crianças que engoliram mais de um ímã.” A cobertura dada pela imprensa ao segundo recall destacava que ímãs semelhantes, usados em brinquedos feitos pela Mattel, haviam provocado a morte de uma criança e causado ferimentos em outras 14.

De acordo com a empresa, a presença de chumbo na tinta ocorreu depois que a fabricante chinesa subcontratou a pintura dos brinquedos a um fornecedor que fez uso de produtos de qualidade inferior e não autorizados. Com relação ao ímã, a empresa informou que, em janeiro, havia “introduzido sistemas de retenção de ímãs mais potentes em seus brinquedos de todas as marcas”. Cerca de 65% dos brinquedos da Mattel são fabricados na China.

Além de divulgar as desculpas do presidente e CEO da empresa, Robert Eckert, e de anunciar com alarde os recalls, a Mattel exigirá agora que todo lote de tinta adquirido de fornecedores seja testado quanto à presença de chumbo, que haja inspeções aleatórias regulares e que todo ciclo de produtos prontos seja testado com base nas normas de conformidade estabelecidas.

Observadores descrevem as desculpas do CEO como uma atitude bem-vinda comparada com empresas que, no passado, não admitiram logo de início o problema e/ou tentaram jogar a culpa em terceiros. “O pedido de desculpas feito por um alto executivo é importante por dois motivos”, observa Jacques deLisle, professor de Direito da Universidade da Pensilvânia com especialização em direito e política chinesa. “Em primeiro lugar, quando a desculpa é feita por alguém do alo escalão, o recall geralmente tem maior repercussão. Em segundo lugar, diversos estudos mostram que as vítimas, em geral, dão muita importância ao pedido de desculpas e até se conformam com uma indenização menor no momento em que o acusado se retrata e se dispõe a reparar o erro cometido, em vez de negar qualquer responsabilidade pelo ocorrido.”

De acordo com Lisa Bolton, professora de Marketing da Wharton, em circunstâncias desse tipo as empresas são aconselhadas a “tomar as rédeas da situação o mais rápido possível [...] procurando controlar o episódio e seus desdobramentos. Creio que o pedido de desculpas foi uma tentativa nesse sentido, e serviu também para tranqüilizar os clientes. Contudo, é possível que tenham chegado um pouco tarde [...] Como não é a primeira vez que se observam problemas associados a pequenos ímãs, é de se perguntar porque a empresa continuou a empregar essa tecnologia” durante todo esse tempo.

Agora que o pedido de desculpas foi feito, “o verdadeiro desafio para a Mattel consiste em mostrar que a empresa está realmente empenhada em aperfeiçoar seu controle de qualidade”, avalia Robert Mittelstaedt, reitor da Escola de Negócios W. P. Carey, da Universidade Estadual do Arizona. “Comparo isso ao que sucede às companhias aéreas depois que um avião cai. Vários anos atrás, duas aeronaves americanas colidiram em um intervalo relativamente curto. A empresa foi à luta: contratou um general aposentado da força aérea e o encarregou de montar um grande programa de segurança desenvolvido especialmente para avaliar e pôr em prática processos e procedimentos do setor. A administração tinha de tranqüilizar o público e mostrar a ele que segurança era coisa séria para a empresa.”

De modo geral, diz Mittelstaedt — autor de um livro intitulado “Seu próximo erro será fatal? Como evitar a cadeia de erros que pode destruir sua empresa” (Will your next mistake be fatal? Avoiding the chain of mistakes that can destroy your organization), um lançamento da Wharton School Publishing —, as empresas têm se mostrado mais preocupadas em canalizar suas energias para a fabricação de produtos o mais baratos possível, colocando-os nas prateleiras das lojas rapidamente e, em seguida, no caso das lojas de brinquedos, “sem nenhuma outra preocupação, exceto com o tamanho do produto, que não deve ser pequeno demais para não ser engolido pelas crianças [...] Atualmente, o mundo inteiro sabe que tudo é feito na China porque sai mais barato. Agora, o que se pergunta é quais seriam as prioridades das empresas. A Mattel, por exemplo, além de introduzir novos sistemas de controle de segurança, deveria também lançar campanhas educativas em massa. A empresa poderia, por exemplo, avaliar a possibilidade de publicar informações sobre seus brinquedos e instruir as crianças sobre como brincar com eles de modo seguro. A Johnson & Johnson, na época em que o Tylenol se tornou motivo de pânico, nos anos 1980, fez isso voluntariamente. A empresa inventou a embalagem segura antes mesmo de que qualquer governo fizesse essa exigência”.

Elmo
Não se sabe ainda qual será o prejuízo da marca Mattel, embora a boneca Barbie pareça simplesmente invulnerável. “A Barbie é uma franquia forte demais para sofrer algum tipo de dano”, diz Hoch, pai de duas filhas que, num certo momento da vida, possuíam um total de 40 Barbies e inúmeras peças de roupa da boneca. “A marca, de fato, é o nome do brinquedo, e não seu fabricante. A Barbie se ‘descolou’ da Mattel.”

Bolton diz que qualquer dano à marca Mattel depende, em parte, do que acontecerá nos próximos meses. Se houver outros recalls, ou recalls de outras fabricantes de brinquedos, então “sim, a marca Mattel provavelmente sairá prejudicada. Por outro lado, a empresa domina efetivamente o mercado de brinquedos. Basta olhar as prateleiras das lojas. Às vezes, não há alternativa, já que a Mattel comercializa todos os brinquedos de algum modo vinculados à televisão, ao cinema e assim por diante. Se o seu filho lhe pede um Elmo, melhor não tentar lhe dar outra coisa”. Bolton concorda com Hoch, e acha que a Barbie, provavelmente, sairá ilesa. “A ênfase da cobertura é sobre a Mattel. Não se sabe se o consumidor fará a ligação entre os problemas detectados e a boneca Barbie. Portanto, o ‘efeito negativo’ não deverá contaminar significativamente o produto, já que muita gente não faz esse tipo de associação.”

É verdade, porém, que a Mattel tem um “problema e confiança”, diz Bolton. “Os pais confiam na due dilligence das fabricantes de brinquedos. Alguém tem de ser responsabilizado, e é muito difícil para o consumidor americano culpar os fornecedores chineses sem nome e sem rosto. A empresa tem de se responsabilizar pelas peças que integram seus produtos.” As crianças, diz ela, “são consumidores vulneráveis. Esperamos que as empresas tomem todo o cuidado possível com elas.”

Mittelstaedt levanta outra questão: muita gente, diz ele, “nem sequer sabia que a Mattel é dona da Fisher-Price. Agora, ficou mais claro quem é dono do quê. Se a empresa não for cautelosa, a marca será afetada”. No entanto, Mittelstaedt não crê que as compras de Natal estejam comprometidas. “O segmento de brinquedos é um setor muito forte da economia.” Se a Mattel for inteligente, acrescenta, “raciocinará da seguinte forma: ‘Aprendemos uma lição importantíssima, por isso trabalharemos mais do que qualquer outra empresa do setor para proteger seus filhos.’ Se a companhia tiver sucesso nessa empreitada, ótimo, mas se pedir desculpas simplesmente e continuar a ir atrás de fornecedores chineses mais baratos, a perda de confiança será substancial.” Uma empresa pode culpar uma vez o seu fornecedor por produtos defeituosos, mas a tática não funcionará mais da segunda vez, diz ele.

Thomas Donaldson, professor de Estudos Jurídicos e de Ética nos Negócios da Wharton, também acha que a Mattel será capaz de lidar com os recalls sem grandes prejuízos. “A maior parte dos consumidores sabe que os produtos são fabricados em outros locais, e que pode haver dificuldades em se adequar aos padrões elevados de qualidade dos EUA — que hoje são muito mais rigorosos do que há 40 anos.” A “ironia desses recalls”, acrescenta, “é que a Mattel já está à frente das demais. Diferentemente de muitos outros varejistas que terceirizam a fabricação de seus produtos para a China, a Mattel desenvolveu normas e sistemas de segurança há vários anos”. Na verdade, na página dos professores da Escola de Negócios Zicklin, do Baruch College, S. Prakash Sethi, professor de Administração e de Ética nos Negócios, aparece como “consultor da Mattel [...] tendo ajudado a empresa a estruturar um código mundial de conduta, além de um plano de monitoramento da produção”.

Donaldson diz ainda que “não é possível garantir sempre a segurança dos brinquedos ou de qualquer outro produto. Com relação à China, estamos terceirizando a fabricação dos nossos produtos para um lugar que está a décadas de distância do tipo de know-how, infra-estrutura e sistema regulatório comuns nos EUA. Isto não é verdade apenas no que se refere à China. Vale também para a América Latina, sudeste asiático e outras regiões em que os países continuam bem abaixo das exigências requeridas, sobretudo no que diz respeito aos requisitos de segurança”.

Prosseguindo, diz Hoch, “seria do interesse da Mattel revelar o máximo possível as informações de que dispõe. É preciso que a empresa passe a limpo todas as áreas da organização, incluindo-se aí os fornecedores, certificando-se de que nada ficou de fora. Isso teria um impacto positivo sobre as inquietações dos consumidores em relação à segurança dos produtos”.

O risco da responsabilidade

A companhia enfrenta, ao mesmo tempo, várias ações relacionadas à presença de chumbo na pintura dos brinquedos e aos ímãs utilizados nos produtos. “São vários os problemas em ambos os casos”, diz deLisle. “De acordo com o direito americano, o fabricante ou vendedor — aqui, a Mattel — será considerado culpado pelos defeitos apresentados no produto. Muito do que tem sido descrito como problema nesses brinquedos será considerado defeito de fabricação. Além disso, questiona-se também a possível negligência do fabricante, que não teria avaliado mais rigorosamente os produtos vindos da China [...] Sempre que a segurança do consumidor é ameaçada, há uma certa relutância em deixar livres os possíveis réus, isentando-os de culpa por terem contratado terceiros cujas decisões redundaram em danos ao consumidor.”

Em outras palavras, prossegue deLisle, pode-se dizer que, no tocante aos ímãs, “a Mattel foi negligente porque não se preocupou em melhorar o design dos seus produtos”; no que diz respeito à presença de chumbo na pintura, “a empresa errou porque deixou de especificar de forma mais concreta, e não inspecionou mais de perto, o que os fornecedores chineses estavam fazendo”. Donaldson concorda: “Será muito difícil para a Mattel alegar que não era responsável pelo que aconteceu”, observa. Também será impossível para a empresa, na maior parte dos casos, repassar o ônus dessas ações para os fabricantes chineses. “Na medida em que o projeto apresenta erros, não há como passar a responsabilidade para ninguém.” A culpa pelos defeitos “poderá recair inteiramente sobre a Mattel”.

O recall da empresa, por outro lado, é sem dúvida alguma um “ato prudente de diminuição de culpa”, diz deLisle. “O objetivo do recall é evitar que haja danos. Quando se recolhe um produto antes que ele provoque danos, informando previamente ao público de forma adequada sobre o ocorrido, e se as pessoas se machucarem com os produtos que optaram por não devolver, o fabricante sai fortalecido de tal contexto” para se defender contra as ações impetradas contra ele.

A Mattel, maior fabricante de brinquedos do mundo — com vendas de 5,65 bilhões de dólares em 2006 — será, tudo indica, o alvo das ações, já que é dona de uma grande fortuna e o acesso a ela é mais fácil, comparativamente, do que a outros integrantes da cadeia de suprimentos. Conforme pondera deLisle, quem quer que processe a empresa nesse caso específico “terá menos dificuldades em fazê-lo em comparação com os réus chineses, além de contar com expedientes mais seguros para levá-la a julgamento”. De acordo com uma reportagem veiculada esta semana pelo New York Times, já há um advogado trabalhando em uma possível ação coletiva contra a Mattel “cujo objetivo é obrigar a empresa a pagar os exames das crianças possivelmente envenenadas com o chumbo da tinta usada nos brinquedos [...]”. Essa ação foi precedida de outra impetrada no início deste mês por um pai que pedia “ressarcimentos pelos brinquedos adquiridos, dinheiro para a realização de exames para diagnosticar envenenamento por chumbo e outros danos”, segundo o jornal.

DeLisle diz que quaisquer ressarcimentos por prejuízos causados “serão mínimos em comparação com os custos do recall de milhões de unidades, lucros perdidos e prejuízos à reputação da Mattel — além das despesas decorrentes da prospecção de outras redes de fornecedores, acréscimo de mais mecanismos de monitoramento e implantação de um sistema eficaz de supervisão”.

Chamando todos os brinquedos

Os recalls são, obviamente, parte importante da estratégia da Mattel em relação às questões de segurança dos seus brinquedos. No entanto, mesmo nesse ponto a empresa tem sido criticada. Rachel Weintraub, diretora de segurança do produto da Federação dos Consumidores Americanos (CFA, na sigla em inglês), sediada em Washington, capital federal, observa que a Mattel fez um recall em novembro do ano passado dos brinquedos Polly Pocket depois que a CPSC foi informada de 170 casos de desprendimento de ímãs. O segundo recall de Polly Pockets feito na semana passada ocorreu depois de a CPSC receber outros 400 relatos sobre desprendimento de ímãs. “Por que a empresa demorou tanto a repetir o recall?”, indaga.

Alguns observadores também questionam a eficácia dos recalls. De acordo com Nancy Cowls, diretora-executiva da Kids in Danger (Crianças em Perigo), uma organização sem fins lucrativos de Chicago voltada para a segurança dos produtos, as estatísticas mostram que somente de 10% a 30% dos produtos são devolvidos durante o recall. Os produtos dirigidos especificamente ao público infantil — brinquedos, roupas, mobília e acessórios— são alvo de recalls cerca de duas vezes por semana. Aproximadamente três bilhões de brinquedos são vendidos ao ano nos EUA, de acordo com o porta-voz da Associação das Indústrias de Brinquedo, com sede em Nova York.

“Os recalls são feitos principalmente através dos meios de comunicação noticiosos”, diz Cowl, “o que não é muito produtivo. Os recalls da Mattel têm sido objeto de muita pressão, o que não é comum. Na maior parte dos casos, o consumidor não ouve falar deles, por isso continua a usar o produto defeituoso, ou o passa adiante para outros. Espera-se que muitas pessoas estejam jogando fora esses produtos”.

Para que a comunicação seja mais eficaz, os fabricantes deveriam informar os consultórios médicos e as agências especializadas no bem-estar infantil sobre os recalls, diz ela. Além disso, o varejo deveria ser informado pelos fabricantes a respeito de quaisquer produtos defeituosos. “Às vezes, o varejo fica sabendo do recall ao mesmo tempo que o consumidor”, diz ela. Outra coisa importante: “as empresas deveriam pôr em prática o marketing reverso. Sem dúvida elas sabem como utilizar a verba de marketing para atingir o consumidor. Portanto, deveriam usar esse mesmo marketing e o dinheiro empregado em publicidade para informar os consumidores sobre defeitos e outros riscos presentes nos produtos”.

Bolton observa que “com base em minha experiência pessoal de consumidora, sei que é muito difícil apurar se o seu produto faz parte do recall. As empresas rastreiam os consumidores que adquiriram o produto ou os incentiva a se manifestarem. O consumidor pode simplesmente achar trabalhoso demais ler as instruções do recall, tentar descobrir se o seu produto está incluído no aviso e depois se esforçar para se lembrar onde foi que o comprou. É possível também que ele tenha de pagar para enviá-lo à empresa. Talvez consiga uma substituição, talvez não”.

Weintraub também se diz preocupada com a eficácia dos recalls, isto é, se seriam capazes de fato de retirar os produtos defeituosos das mãos das crianças. Ela elogia o empenho da Mattel em se comunicar com o consumidor e informá-lo sobre a culpa da empresa no ocorrido, mas diz que é preciso recorrer a meios de comunicação mais eficazes. O CFA entrou com uma petição junto à Comissão de Segurança de Produtos de Consumo (CPSC) há vários anos que exigia dos fabricantes de produtos infantis a elaboração de cartões de registro — ou um equivalente online — que o consumidor preencheria com informações adicionais de contato em caso de recall. A petição foi rejeitada, porém projeto de lei semelhante foi aprovado recentemente por uma subcomissão do Congresso. “Ainda falta muito”, diz Weintraub.

“Made in China”: outro problema de marca?

Na esteira dos recalls da Mattel — e de notícias recentes sobre produtos chineses defeituosos ou que não oferecem segurança, como pneus, ração para animais domésticos, pasta dental e produtos farmacêuticos, entre outros — “a expressão ‘Made in China’ poderá ficar sob suspeita durante algum tempo, ou será alvo de grande cautela”, diz Meyer. O governo chinês, acrescenta, reconhece a dimensão do problema e vem tentando fazer o possível para garantir que o ‘Made in China’ seja sinônimo de boa qualidade, e não de má qualidade.” Um sinal disso foi o anúncio feito pelo governo, na semana passada, de que começará a inspecionar todas as exportações de alimentos, punindo exemplarmente as violações às normas de saúde e de segurança. “Os consumidores chineses, porém, há anos são castigados com produtos malfeitos ou inseguros, com poucas chances de conseguir alguma mudança. Agora, o comércio internacional talvez faça por eles o que o seu sistema jurídico não é capaz de fazer.”

Com relação a Mattel, Meyer diz que a resposta da empresa, por enquanto, deve ser considerada como um primeiro passo. Na China, diz ele, a cadeia de produção consiste em “fornecedores, subfornecedores e sub-subfornecedores. Isto permite que o trabalho seja feito a um custo extremamente baixo, porque todo o mundo está atrás do menor preço. No entanto, dificulta também o controle de qualidade”. As empresas que terceirizam sua produção para a China, diz ele, deveriam conhecer todos os elos da cadeia de produção. Em outras palavras, “todos deveriam conhecer o chão-de-fábrica. Deve-se também considerar a hipótese de a empresa adquirir a empresa do fornecedor. Embora isso seja impossível em um setor como o da indústria automobilística — onde os investidores estrangeiros não podem ter mais de 50% de participação — a indústria de brinquedos não é considerada estratégica e não conta com tais limitações. A Mattel, de uma forma ou de outra, deveria assumir o controle do processo”. No fim das contas, diz Meyer, isto se aplica a “todas as empresas que distribuem produtos e trabalham com marcas no Ocidente”.

DeLisle concorda com Meyer em relação à dificuldade que as empresas, entre elas a Mattel, deparam quando terceirizam para a China. “Muitos dos problemas que hoje observamos não foram introduzidos pela companhia chinesa com a qual a empresa americana lida diretamente. O problema está em algum ponto da cadeia de suprimentos, geralmente com o subfornecedor. Essas coisas acontecem em grande parte devido à feroz competição de preços. A pressão sobre os preços é enorme, e as informações ainda são relativamente precárias na China.”

Embora muitos estejam aparando as arestas da cadeia de produção para manter os custos em patamares baixos, “há também casos de pessoas que estão simplesmente trapaceando”, acrescenta deLisle. Com o crescimento da demanda, numerosos fornecedores de pequeno porte, relativamente novos, “começam a aparecer e com pouca preocupação no tocante à sua reputação ou a seus ativos. Não há barreiras que os impeçam de lançar mão de recursos oportunistas. Portanto, trata-se de uma combinação de gente trabalhando em um mercado que pressiona os custos e gente que está simplesmente empregando processos fraudulentos. As atividades não são tão bem policiadas quanto seriam se ocorressem em uma economia mais madura cujo crescimento se desse a um ritmo extremamente veloz”.

Sunday, September 9, 2007

Paper prototyping ou o outro uso do Post-it



A nossa amiga comum, Joana Rebelo, teve a simpatia de recordar, um dia destes, uma cena incompleta em que alguns de nós tentaram aplicar o uso de Post-it (em especial os da Olinda) na descrição de um processo.

Há duas áreas profissionais onde é comum (para mim) a aplicação da chamada prototipagem de papel e que passa pelo desenvolvimento de modelos de um sistema (mockups) - nem sempre fáceis de usar - onde os Post-it representam janelas, caixas de diálogo, teclas, botões e menus. A equipa do projecto realiza testes destes protótipos com os utilizadores no seu local de trabalho simulando ou reproduzindo eventos do trabalho real no sistema proposto. Quando o utilizador descobre problemas, podemos dar início a uma discussão de grupo em que todos os interessados mais os designers/projectistas geram uma hipótese de novo protótipo que cumpra requisitos e necessidades. Os protótipos de papel suportam a iteração contínua do novo sistema, mantendo sempre a verdadeira ligação às necessidades do utilizador. Refinar o projecto com a participação dos utilizadores finais dá aos designers/projectistas uma prática colaborativa com o cliente que resolve desacordos de modo eficaz e possibilita com agilidade passar à fase seguinte do projecto.

«Foi só para recordar»

Investigação Aplicada «Métodos» (II)


Clicar no desenho para ampliar

Levar a cabo um projecto de investigação aplicada pode ser visto como a composição de dois subprojectos, um afecto às actividades de «pensar» como é o caso do planeamento e outro dedicado a tarefas de «fazer» que trata da sua execução.

Na representação gráfica que esboçamos acima, enunciamos na fase de planeamento a preocupação do investigador ou «dono do projecto» com a definição do âmbito da investigação e desenvolvimento do respectivo plano. Ao longo da fase seguinte, a da execução, o investigador trata da implementação e monitorização do plano: design, recolha de dados e respectiva análise, mais os procedimentos de gestão, seguido dos relatórios e revisão das actividades em curso.

As representações gráficas, pela sua própria natureza, nem sempre deixam relevo bastante para a natureza iterativa do processo de design. Imaginemos um problema típico de envolvimento de uma empresa com os seus clientes/consumidores como o que aconteceu, recentemente, com aquela multinacional de brinquedos que teve de retirar milhões de peças dos hipermercados. O ciclópico desenvolvimento da compreensão sobre relevantes questões societais, ambientais e de saúde pública vai levar o(s) investigador(es) a refinar e rever vezes sem conta a imensa lista de questões em jogo, até haver suficiente segurança de que os tópicos seleccionados para estudo são pertinentes e investigáveis.

Após ter sido escolhido o naipe de questões potencialmente a investigar, a equipa irá movimentar-se para a etapa II: desenvolvimento do design da investigação e respectivo plano. Esta etapa envolve decisões múltiplas, cada uma com a avaliação em causa, incluindo selecção do design e estratégias propostas para efectuar a recolha de dados.

Praticamente em simultâneo ou quase, o investigador tem de determinar os recursos necessários para a condução dos estudos. Esta é uma área muito deficiente – precisamente à qual me dedico – uma vez que a educação académica orientada para as ciências sociais não tem acompanhado outros campos científicos, daí resultando uma má tradição na entrega do produto/serviço ‘on time’.

O design e planeamento da investigação também incluem a avaliação sobre a viabilidade em levar a cabo o estudo, sobretudo enquadrando-o na base de tempo prevista e apelando aos recursos disponíveis ou possíveis, pelo que é muito útil uma análise dos trade-offs relativos ao design e decisões do planeamento. Embora em termos académicos não exista essa tradição – excepção feita para as dissertações e teses, onde o «cliente» é o orientador – o investigador deveria ter sempre em mente a existência de um «cliente» do projecto de investigação, que lhe permitisse fazer uma discussão séria à volta do plano completo, mais a análise dos trade-offs, pois a implementação de um projecto responde a certas regras éticas muito simples, que se esquecem com demasiada frequência, sendo uma delas, a da participação: “Há mais inteligência em dez cabeças que numa só”.

Como podemos ver na figura, as actividades de planeamento na etapa II ocorrem muitas vezes ao mesmo tempo, até que o plano final seja concluído.

Em qualquer ponto da etapa II, o investigador pode revisitar e rever decisões, mesmo que seja necessário um regresso à etapa I para renegociar questões pertencentes ao estudo ou, o que é mais frequente, reajustar a base de tempo. É mais usual do que possa parecer, em determinada altura do projecto, o investigador constatar que o design originalmente concebido não conduz a desenvolvimentos capazes de responder à questão inicial. Não vale a pena passar à etapa III, a da execução, se no final da etapa II não existe um plano detalhado, compreensivo, pronto para uma execução à escala completa.

Saturday, September 8, 2007

Projecto de site de cooperação

Um amigo aqui do nosso painel enviou-me um e-mail de um projecto que é uma tentativa de portal cooperativo de de partilha de conhecimento que penso valer a pena dar a conhecer.


"Uma biblioteca digital é onde o passado encontra o presente e cria o futuro."
Dr. Avul Pakir Jainulabdeen Abdul Kalam
Presidente da Índia - 09/set/2003

O "Portal Domínio Público", lançado em novembro de 2004 (com um acervo inicial de 500 obras), propõe o compartilhamento de conhecimentos de forma equânime, colocando à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores - Internet - uma biblioteca virtual que deverá se constituir em referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em geral.

Este portal constitui-se em um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada, que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal.

Desta forma, também pretende contribuir para o desenvolvimento da educação e da cultura, assim como, possa aprimorar a construção da consciência social, da cidadania e da democracia no Brasil.

Adicionalmente, o "Portal Domínio Público", ao disponibilizar informações e conhecimentos de forma livre e gratuita, busca incentivar o aprendizado, a inovação e a cooperação entre os geradores de conteúdo e seus usuários, ao mesmo tempo em que também pretende induzir uma ampla discussão sobre as legislações relacionadas aos direitos autorais - de modo que a "preservação de certos direitos incentive outros usos" -, e haja uma adequação aos novos paradigmas de mudança tecnológica, da produção e do uso de conhecimentos.

FERNANDO HADDAD
Ministro de Estado da Educação



Dar uma espreitadela não custa nada, até pode ser interessante: http://www.dominiopublico.gov.br

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Tenho dito

Friday, September 7, 2007

Um dos factores motivadores da Inovação

A necessidade aguça o engenho....

Recebi este e-mail e sinceramente não sei se todo o conteúdo é fidedigno, mas fica a intenção:

"Com o fim de ajudar milhares de professores que se encontram deslocados longe de casa, um professor de Aveiro está a finalizar a criação de uma página de permutas de locais de trabalho de professores.
Com tantos professores deslocados de suas casas, o mais provável é que se consiga arranjar permutas entre os que querem, no mínimo, ficar mais próximo de casa.
Divulguem o site www.permutas.pt.vu e os professores que estão longe de casa que se inscrevam! Não se esqueçam de consultar o despacho que regulamenta as ditas permutas entre professores - Portaria 622-A/92 de 30 de Junho"

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Tenho dito

Wednesday, September 5, 2007

Investigação Aplicada «Métodos» (I)


Interrogamo-nos muitas vezes se deve ou não haver uma metodologia única, a verdadeira, a autêntica, para a prática da investigação aplicada.
A tentação, até porque fomos criados no mundo da física, é que devemos procurar obter a síntese dos diferentes métodos, para já e a traço grosso, convencendo académicos e profissionais de que deveriam impor aos seus investigadores ‘o pôr em prática os mesmos métodos’.
Depois, vêm à memória, exemplos passados, cheios de constrangimentos e plenos de oportunidades, dependentes de ambientes políticos e de urgências administrativas, e financeiras, e de poder, e de…

Recuperemos um ponto de partida e façamos uma pequena incursão à literatura de referência no caso das actividades I&D que é o Manual Frascati (OCDE, 2002), muito embora para a Inovação seja seguido o Manual de Oslo (OCDE, 2005).
A actividade de investigação e desenvolvimento compreende o trabalho criativo, empreendido de modo sistemático, com a finalidade de aumentar o ‘stock’ do conhecimento, incluindo conhecimento do homem, da sua cultura e da sociedade, e o uso deste conhecimento para planear novas aplicações. É assim que está enunciado no Frascati Manual.
Este manual de referência, da OCDE e do nosso MCTES, define três camadas de actividade para o I&D, cada uma com horizontes diferidos no tempo no que se refere à sua exploração potencial:

■ investigação básica: “é trabalho experimental ou teórico empreendido primeiramente para adquirir o conhecimento novo sobre os fundamentos subjacentes dos fenómenos e factos observáveis, sem nenhum aplicação ou uso particular na vista”

■ investigação aplicada: “é também investigação original empreendida com a finalidade de conseguir novo conhecimento. No entanto, esta dirige-se à partida no sentido de alcançar um objectivo determinado ou um alvo prático específico”

■ desenvolvimento experimental: “é o trabalho sistemático, ‘extracção de’ em conhecimento existente, ganhos provenientes da investigação e/ou da experiência prática, o qual é dirigido para produzir novos materiais, produtos ou dispositivos, instalação de novos processos, sistemas e serviços, ou para melhorar substancialmente aqueles já produzidos ou instalados”

Mas, a natureza da investigação aplicada é quase sempre iterativa. Tal como a própria questão – cerne da investigação – foco de todo o nosso esforço, raramente é estática.
Preferencialmente, para manter a credibilidade, conformidade e qualidade do projecto de investigação, o investigador deve fazer uma série de iterações dentro do projecto de investigação. A iteração é necessária não por causa de inadequações metodológicas, mas sim pelas sucessivas redefinições do problema aplicado, tal como o projecto havia sido planeado e implementado. É certo e sabido que, quanto mais conhecimento se ganha, maiores são os obstáculos inesperados que se erguem e mais desliza o contexto debaixo dos nossos pés.

Tuesday, September 4, 2007

Será que a minha vida tem sido diferente?

Real Life Simpsons Intro

On this day in 1956, the IBM RAMAC 305, the first commercial computer to use magnetic disk storage, was introduced.

"We confess our little faults to persuade people that we have no large ones."
- Francois de La Rochefoucauld -

ISTO É UM MOMENTO FNAT = 'Federação Nacional da Alegria no Trabalho'

Passamos a vida à espera... não sei bem de quê


Vá lá… coloque este endereço no browser da Internet:

https://empreendedorismo.pbwiki.com/

Dê uma vista de olhos ou faça LOGIN

Se ainda não pediu a PASSWORD pode passear à mesma:

Este tema não lhe agrada?

Quer uma WIKI sobre o desenvolvimento de um serviço?

Qual é o problema? Diga em meia folha A4 como quer estruturar a concepção e desenvolvimento de uma ideia, produto, serviço, blablablablabla…

Monday, September 3, 2007

INOVAÇÃO: que níveis de sofisticação?


Será que isto pode ser parte de uma inovação?

Será que isto pode ser a própria inovação?

Será que a inovação tem de ser observada, interpretada, sempre do mesmo modo?

Sunday, September 2, 2007

Seguimento da WIKI «pode ser feito no TWITTER»


Ponto de situação:

Para já, só o «kcedu» + «crisferre» + «R.Caldas» é que disseram YES.

Tenho estado a dialogar com o «kcedu» através do twitter.com

O meu nickname no twitter.com é «alexsousa»

Basta ir ao menu» find» escrever o nickname e têm acesso às mensagens trocadas.

Já abriste o teu espaço no twitter.com???

Para colaborar na wiki, é preciso uma password. Quem responder ao convite enviado por eMail, recebe na volta a password.

Saturday, September 1, 2007

Vamos trabalhar numa WIKI?



O desafio hoje colocado está a ser objecto de experiência. Os velhos teóricos exprimiram vezes sem conta a «certeza» de que em Ciências Sociais não pode haver Laboratório Experimental. Contestei isso, em actas de congresso: (1993) I Encontro Economistas de Língua Portuguesa. Nunca mais deixei de aproveitar a mínima oportunidade para tentar provar que a afirmação dos teóricos não tem sentido.

Vamos ao trabalho:
Criei uma WIKI no site http://www.pbwiki.com
De seu nome EMPREENDEDORISMO
A esta hora já receberam o convite no vosso endereço eMail…
Porquê? O nome? Ah! sim, o nome e o objecto; faz sentido porque tenho coisas semelhantes num programa que está em andamento na cidade grande e outro no programa transfronteiriço. Depois, olho para o vosso grupo e vejo-vos como grandes empresários do futuro, a discutir substituição de DGs do Millenium e cotações do SLB com o Berardo.
Pessoalmente, não gosto do termo, tenho até dúvidas se o empreendedor (dito assim mesmo) deve ser individualizado do todo que é o inovador, mas percebo que cada um precisa do seu espaço, em especial de vender o seu «peixe» e portanto, deixemo-nos ir na corrente, assim à moda de ‘main stream’.

Com que então, Wiki?
Quem está habituado a olhar para a wikipédia imagina que todas as wikis têm que ter aquele aspecto. Não é assim. Não se trata de uma questão de forma, mas sim de conceito.
Na UA, criamos wikis no ambiente ‘wordpress’, são bastante sofisticadas mas difíceis de dominar. Talvez por isso, a maioria dos alunos tem medo de lhes mexer, é que estas coisas às vezes mordem. (Não é verdade… estou a brincar)
O que é uma wiki ???
« é uma colecção de páginas (interligadas) dedicadas a um tema, onde cada uma delas pode ser visitada e editada por qualquer pessoa»

Muito embora a wiki possa ser vista por quem visita a web, para finalidades educativas, profissionais, projectos, etc. o administrador da wiki só dá permissão para EDITAR aqueles que fazem parte do grupo de trabalho.

Esta wiki é um trabalho laboratorial. Todos os convidados têm permissão para inventar o que quiserem nas páginas da wiki EMPREENDEDORISMO.

O tema criado é a invenção de uma «máquina automática para fazer sandwiches». Imaginemos uma máquina para vender tabaco, ou para entregar bebidas, ou para… não interessa o quê. Tem qualquer coisa de novo, ou não trabalhássemos nós em inovação:

Imaginemos que a máquina tem uma zona de pão, outra de queijo, outra de ovo, outra de salmão, fiambre, presunto, etc.
O cliente programa num teclado a «sua» sandwich e dialoga com a máquina via teclado/ecrã. Quando está satisfeito com a sua obra, paga, obtém um recibo mais a «sua» sandwich.
Fácil? Barato? Como pôr um trevo na tromba do elefante?
Pode ser que sim!

A wiki tem um conjunto de páginas temáticas que estão «abertas» à vossa criatividade e imaginação. Podeis trabalhar livremente em qualquer dos tópicos e na vertente que vos dê na real gana.

Questões adicionais:
http://newfaq.pbwiki.com/
http://forums.pbwiki.com/

Tópicos onde podeis brilhar sem limitações:

■ Concepção & Desenvolvimento

■ Estudo do mercado

■ Investidores

■ Design

■ Protótipo

■ OEM

■ Distribuição

■ Logística


Ah! já me esquecia dizer que não aceitei o convite do Rui Rio para estar hoje no Porto a ver as máquinas voadoras, é que hoje… hoje é dia de fazer pão no forno a lenha.