Sunday, September 9, 2007

Investigação Aplicada «Métodos» (II)


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Levar a cabo um projecto de investigação aplicada pode ser visto como a composição de dois subprojectos, um afecto às actividades de «pensar» como é o caso do planeamento e outro dedicado a tarefas de «fazer» que trata da sua execução.

Na representação gráfica que esboçamos acima, enunciamos na fase de planeamento a preocupação do investigador ou «dono do projecto» com a definição do âmbito da investigação e desenvolvimento do respectivo plano. Ao longo da fase seguinte, a da execução, o investigador trata da implementação e monitorização do plano: design, recolha de dados e respectiva análise, mais os procedimentos de gestão, seguido dos relatórios e revisão das actividades em curso.

As representações gráficas, pela sua própria natureza, nem sempre deixam relevo bastante para a natureza iterativa do processo de design. Imaginemos um problema típico de envolvimento de uma empresa com os seus clientes/consumidores como o que aconteceu, recentemente, com aquela multinacional de brinquedos que teve de retirar milhões de peças dos hipermercados. O ciclópico desenvolvimento da compreensão sobre relevantes questões societais, ambientais e de saúde pública vai levar o(s) investigador(es) a refinar e rever vezes sem conta a imensa lista de questões em jogo, até haver suficiente segurança de que os tópicos seleccionados para estudo são pertinentes e investigáveis.

Após ter sido escolhido o naipe de questões potencialmente a investigar, a equipa irá movimentar-se para a etapa II: desenvolvimento do design da investigação e respectivo plano. Esta etapa envolve decisões múltiplas, cada uma com a avaliação em causa, incluindo selecção do design e estratégias propostas para efectuar a recolha de dados.

Praticamente em simultâneo ou quase, o investigador tem de determinar os recursos necessários para a condução dos estudos. Esta é uma área muito deficiente – precisamente à qual me dedico – uma vez que a educação académica orientada para as ciências sociais não tem acompanhado outros campos científicos, daí resultando uma má tradição na entrega do produto/serviço ‘on time’.

O design e planeamento da investigação também incluem a avaliação sobre a viabilidade em levar a cabo o estudo, sobretudo enquadrando-o na base de tempo prevista e apelando aos recursos disponíveis ou possíveis, pelo que é muito útil uma análise dos trade-offs relativos ao design e decisões do planeamento. Embora em termos académicos não exista essa tradição – excepção feita para as dissertações e teses, onde o «cliente» é o orientador – o investigador deveria ter sempre em mente a existência de um «cliente» do projecto de investigação, que lhe permitisse fazer uma discussão séria à volta do plano completo, mais a análise dos trade-offs, pois a implementação de um projecto responde a certas regras éticas muito simples, que se esquecem com demasiada frequência, sendo uma delas, a da participação: “Há mais inteligência em dez cabeças que numa só”.

Como podemos ver na figura, as actividades de planeamento na etapa II ocorrem muitas vezes ao mesmo tempo, até que o plano final seja concluído.

Em qualquer ponto da etapa II, o investigador pode revisitar e rever decisões, mesmo que seja necessário um regresso à etapa I para renegociar questões pertencentes ao estudo ou, o que é mais frequente, reajustar a base de tempo. É mais usual do que possa parecer, em determinada altura do projecto, o investigador constatar que o design originalmente concebido não conduz a desenvolvimentos capazes de responder à questão inicial. Não vale a pena passar à etapa III, a da execução, se no final da etapa II não existe um plano detalhado, compreensivo, pronto para uma execução à escala completa.

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