A importância para a sociedade da inovação, e para os programas da instrução e da investigação nessa área, necessita ser discutida, arduamente. Entretanto, tais programas enfrentam um razoável número de desafios. Necessitam ser interdisciplinares, combinando elementos tais como a tecnologia, mercados, organizações e instituições. Enquanto no passado havia uma ênfase na mudança tecnológica, nos anos mais recentes houve um reconhecimento crescente dos aspectos não-tecnológicos da inovação.
De facto, esta introspecção sempre fez parte das noções básicas sobre inovação propostas pelo economista Schumpeter: a inovação envolve a realização técnica e comercial de uma invenção, e pode dizer respeito quer à tecnologia mas também aos pontos de partida, ao marketing e à organização.
Entretanto, porque a tecnologia é ainda uma parte indispensável da ciência da inovação, devemos manter parte da compreensão básica da tecnologia. Muitos sentem que uma compreensão apropriada da tecnologia requer formação básica das ciências exactas subjacentes (matemática, física, química, biologia). Visto que tal preparação pode ser proveniente de currículos iniciais, que fizeram parte da instrução secundária, aquela pode não dar suficientes garantias, e isto impõe algum rigor adicional aos programas da educação superior sobre a inovação.
Uma vez que a tecnologia tem uma base na ciência natural, enquanto que a organização, os mercados e as instituições tiverem a sua base nas ciências sociais, os estudos da inovação requerem uma combinação de ciências (β) beta (‘hard’) e (γ) gama (‘soft’), com respectivas diferenças no ‘outlook’, no estilo e no método. Isto torna-se um problema fundamental para programas dos estudos da inovação. É útil mas também difícil para os estudantes, a construção de uma ponte entre os campos (β) beta e (γ) gama, e isto não se consegue facilmente, devido ao facto de que é difícil encontrar a equipa de professores/formadores que tenha experiência em ambas as áreas. Além disso, há também escolhas a ser feitas dentro dos campos (β) beta e (γ) gama.
Na análise da organização e mercados, cada um deve idealmente combinar a economia, sociologia e psicologia, e os campos baseados naquelas disciplinas, tais como o marketing e o comportamento organizacional. A Sociologia é necessária para compreender os efeitos da estrutura social, tais como as redes sociais (networks de pessoas) e redes de empresas, que são vistas cada vez mais como cruciais para a inovação. A Psicologia, inclui a psicologia social, necessária para compreender a motivação e a tomada de decisão, por empreendedores, produtores e consumidores, sob a incerteza da inovação.
Provavelmente, devemos expandir a escala das disciplinas para incluir a ciência cognitiva, porque se o conhecimento, a aprendizagem e a colaboração forem cruciais na inovação, e nós falarmos da «economia do conhecimento» devemos ou não incluir ciências da cognição e da linguagem? Tais combinações de disciplinas dentro do campo (γ) gama não são fáceis. Mesmo dentro da economia e da sociologia há divergência nas escolas rivais do pensamento. Dentro da economia há campos da economia (nova e antiga) neoclássica, evolucionista e institucional. No âmbito da sociologia existe diversidade de campos: população, ecologia, redes, escolhas racionais e sociologia configuracional ou interpretativa. Todos podem ter contribuições a dar.
A inovação está intimamente relacionada com empreendedorismo, o qual por si só, deu origem a uma literatura que ‘explodiu’ ao longo dos últimos 15 anos. Dentro da ciência e da tecnologia há uma variedade de campos e indústrias relacionadas: produtos químicos e farmacêuticos, biotecnologia, TICs, software, mecânica, sensores, robótica, nanotecnologias, novos materiais, etc. Devemos optar por aprofundar razoavelmente o tratamento de uma ou duas tecnologias (‘focalizando’), ou escolhemos uma abordagem mais superficial e numa escala mais larga (‘âmbito’)?
Finalmente, há também uma escolha a ser feita a respeito do nível da agregação: nível macro (inter)nacional da política de inovação, o nível meso das indústrias e dos mercados, e o nível micro das empresa ou dos projectos.
Em suma, o conteúdo das ciências da inovação varia em cinco dimensões:
• Beta science: matemática, física, química, biologia, …
• Tecnologias: químicas, biotecnologias, software, TICs, novos materiais, nanotecnologias, robótica, …
• Gamma science: economia, sociologia, psicologia social, ciência cognitiva, …
• Aspectos da inovação: instituições, sistemas de inovação, empreendedorismo, gestão estratégica, marketing, organização (estrutura e comportamento), recursos humanos (RHs), …
• Nível de agregação: macro, meso, micro.
Observe-se que nem todas estas dimensões são independentes. Deixar cair o nível micro pode significar eliminação da gestão, o marketing, organização e RHs estratégicos.
Podemos combinar todos estes elementos ao manter a coerência e a profundidade, e conseguimos alinhar tudo isto no tempo disponível? Parece claro que há escolhas que têm de ser feitas: não podemos fazer tudo. Em termos aproximados, podemos trabalhar transversalmente, por exemplo, cobrindo indústrias múltiplas e campos da ciência correspondentes, se o comprometimento for com a profundidade, então devemos estudar mais profundamente um ou dois sectores industriais, mesmo que fique comprometido o estudo feito à ‘largura’.
1 comment:
Como desconheço na profundidade o que se passa fora dos limites do português (europeu) ao nível da Inovação, sou da opinião que no território luso continuam a não existir condições para se dar o pontapé na vertical na Inovação. Disciplinas estáticas, professores/formadores pouco dinâmicos formam profissionais com o mesmo espírito.
Continuo e continuarei a defender, que a mudança terá de ser realizada do ponto de vista descendente, do professor/formador para o aluno, atravessando a ponte que os liga (ciência).
Abordar a Inovação pela perspectiva da ciência, para mim leigo na matéria, é rodar sobre o mesmo. Não existirão empreendedores se a formação base da pessoa não incidir sobre o treino e desenvolvimento dessas competências.
Continuo a insistir que deverá ser realizado "investimento" na preparação dos formadores/professores que não poderão ser meros interlocutores da ciência, mas sim agentes directos e intervenientes do processo de aprendizagem quer cientifico quer sociológico dos alunos. Abrir-lhes todas as portas e servir de guia, orientando o aluno no desenvolvimento e aquisição dessas aptidões e competências.
Deverão servir de elo de ligação entre a ciência e o mundo empresarial/comercial.
Quanto à expansão das disciplinas da Inovação, penso que estamos perante o passo seguinte, não sei se poderei dizer que estamos perante uma inovação incremental no ensino da Inovação.
Todas as ciências tem lugar para a Inovação, pelo que será o mais lógico que ela esteja presente em todas elas e que deva ser fomentada e explorada pelos agentes intervenientes.
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