Tuesday, October 23, 2007

Um mercado sentado à nossa espera (Não foi Saramago que disse…)


As empresas espanholas mostram verdadeiros problemas para suprir vagas de «engenheiros» no exterior da Ibéria.
Citemos a Unión Fenosa. A produtora de electricidades enfrenta com frequência a necessidade da contratação de empregados de nível mais elevado que devem passar três anos no Egipto ou cinco na Colômbia. A formação que oferece uma empresa com universidade própria converteu-se num enorme valor atractivo na hora de ‘assinar a ficha’. O autor fala com conhecimento de causa. Interrompi o meu curso de Física para saltar de olhos fechados para a Escola Técnica da IBM (nos longínquos anos 70).
A Unión Fenosa tem o seu campus em Puente Nuevo (Ávila). O facto do jovem engenheiro saber que se compromete com uma empresa que vai acompanhar educacionalmente o seu desenvolvimento profissional é uma vantagem competitiva assumida pelo empregador.

Metade das empresas cotadas na bolsa de Madrid têm a sua universidade privada: Banesto, BBVA, Endesa, Ferrovial, Santander, Unión Fenosa, Iberdrola, Telefónica, NH e Fnac são algumas das que contam com estas entidades, ainda que em diferentes fases de desenvolvimento. Os projectos são tão diferentes entre si que custa definir aquilo de que estamos falando. Algumas destas empresas passaram a centralizar aí, aquilo que sempre haviam partilhado, ou seja a formação, enquanto outras, utilizam-nas como uma espécie de centro de preparação do que já foi identificado como «os seus directores do futuro».

As primeiras universidades de corporação surgiram nos E.U.A. faz 20 ou 30 anos; começaram a fazer isso por puro problema de volume de formação, era mais prático centralizar tudo num campus, e por outro lado, aproveitar «os altos comandos» como professores na hora de transmitir (alguns) conhecimentos. Porém, este esquema está em revisão: de certa maneira deram conta (efectivamente) do que sabem fazer no seu negócio e que a formação não é «o seu», assim sendo, recomeçam a externalizar alguns departamentos.

A maioria das empresas liga o conceito de universidade privada da empresa a um espaço físico, a um campus. Chega-se a esta decisão também por questões de volume e de economia de escala, uma vez que acaba por ser mais barato ter um campus do que estar continuamente a pagar hotéis a directores e empregados deslocados que recebem formação.

Porém, ter um espaço concreto destinado unicamente à formação não garante um compromisso sério para com esta actividade. Se colocarmos no departamento de formação a etiqueta de universidade e continuarmos fazendo o mesmo de sempre, não serve para nada, afirmam os responsáveis da Universitas Telefónica. Ali, não se considera que a preparação que necessita um trabalhador para desempenhar o seu trabalho de cada dia tenha que ser incluída, isso é formação operacional, que é outra coisa. Percebe-se que só os conhecimentos estratégicos são objectivo do novo departamento. Ainda que a empresa não tenha o seu campus de La Roca del Vallés (Barcelona) pronto até finais do próximo ano, os cursos já começaram este ano. Cerca de 1.000 trabalhadores (dos 23 países onde está presente a operadora) receberam aulas num hotel de Barcelona. Entre esses 1.000, encontram-se, presumivelmente, os que no futuro vão dirigir os proventos da companhia.

Os professores, no caso de Telefónica, não são internos; são contratados os melhores das melhores escolas de negócio do mundo – a sério –.
As matérias 5 estrelas nos programas feitos à medida são: a liderança, a maneira como se pode conseguir que a inovação circule pela empresa e os conhecimentos estratégicos para o futuro. O campus de La Roca será a única sede da Universitas Telefónica em todo o mundo. A integração é uma das chaves da estratégia futura. Na Telefónica foram suprimidas as divisões por tecnologias, uniram telemóveis, fixos, Internet e, por isso, a chave da formação dos futuros directores tem que ser a mesma integração.

Outra das chaves que permite valorar a seriedade de uma universidade corporativa é se a formação é um assunto que depende do conselho de administração ou do departamento de recursos humanos. Por cima das modas, ou do «pacote» que lhe queiram atrelar, temos que ver mais além e confirmar se estes temas preocupam o primeiro nível de direcção, se se trata de uma aposta decidida, porque podem ter uma universidade de empresa e não acreditar em nada disso.

As universidades de empresa estão a converter-se em muitos casos num espaço físico e conceptual no qual se vão educar e formar os quadros da direcção do futuro. As experiencias da Unión Fenosa e da distribuidora FNAC servem para ilustrar este modelo. No caso da primeira, a empresa elaborou um mapa de sucessão. Trata-se de identificar os 10% dos quadros internos que possam ser considerados os melhores empregados, dito de outro modo, aqueles que num prazo de cinco anos possam vir a ser directores. Há um trabalho de identificação, e depois uma aposta pelo seu desenvolvimento. Isto também pode ser visto noutra perspectiva: se o profissional se sente apoiado, é difícil que procure ou escute outras ofertas.

Fnac España pôs em marcha outro processo de identificação do potencial dos seus empregados, o que lhes permite seleccionar aqueles que assumirão mais responsabilidades. A distribuidora, que não conta com um campus próprio para o desenvolvimento dos cursos, associou-se com o colégio universitário Cardenal Cisneros. Uma trintena de empregados, futuros responsáveis de departamento, recebe um curso de 14 meses, após o qual saem com o título de técnico universitário em gestão e desenvolvimento comercial pela Universidad Autónoma de Madrid.
E por cá? pelas ocidentais praias da Ibéria há alguma coisa de novo?
Pelo menos cheira mais a Lisboa!

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