Universidades à frente nas novas empresas tecnológicas
publicado por Jornal de Negócios • 26Abr07
Dos 103 projectos empresariais que surgiram no âmbito do programa Neotec da Agência da Inovação (AdI), cerca de 90% têm por base tecnologia nuclear desenvolvida nas universidades e em outras unidades de I&D.
Os dados da AdI assinalam que apenas 10,6% dos projectos é que não identificam a respectiva origem nas instituições universitárias e unidades de I&D. Actualmente, já foram criadas 41 empresas a partir da centena de projectos contemplados (o processo de candidatura ao Neotec terminou em Outubro do ano passado).
Os promotores destas empresas – já criadas ou por criar – têm, consequentemente, um significativo nível de formação escolar: os empreendedores divididem-se por 145 doutorados, 94 mestres e 138 licenciados. Nos próximos cinco anos, o conjunto dos projectos empresariais apoiados perspectiva a contratação de mais 88 doutorados, 104 mestres e 383 licenciados.
A propósito da ligação académica a estes projectos, e do elevado envolvimento de doutorados, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, disse na semana passada que estes indicadores sublinham um novo paradigma de desenvolvimento em Portugal. "O que é novo no país é o aparecimento de empresas baseadas em investigação nova", afirmou, durante a sessão "Ciência 2007", que decorreu no Porto.
No mesmo evento, o presidente da AdI, Lino Fernandes, indicou que "89% dos projectos apoiados vão estar transformados em empresas no final do ano" e que é natural que uma pequena minoria dos empreendimentos acabe por não dar o passo final. "Um dos aspectos mais positivos é que, dentro de cinco anos, ninguém tem como mercado-alvo Portugal, mas sim outros países. Estas novas empresas de base tecnológica têm uma vocação predominantemente exportadora", referiu.
De acordo com os dados da AdI, mais de dois terços dos 103 projectos visam o mercado mundial dentro de cinco anos. O mercado europeu é o objectivo de 20% e o ibérico de 9% no mesmo período.
Se se limitar o horizonte aos próximos dois anos, 29% dos projectos visam o mercado mundial, enquanto 30% apontam para o mercado europeu. O mercado nacional, a dois anos, é o objectivo de 15% dos projectos.
Nota final para a localização das empresas: cerca de 42% localizam-se, ou prevêm a futura localização, na região norte. A região centro, com 29%, e Lisboa e Vale do Tejo, com 26%, são localizações preferenciais.
ALGUNS DOS PREMIADOS (?!):
Bioalvo
Localização: Cantanhede
CEO: Helena Vieira
O Natal de 2005 passou e a empresa é criada ligeiramente depois das rabanadas, mais precisamente a 29 de Dezembro do mesmo ano. Com 2,6 milhões de euros de capital social, a Bioalvo apresenta-se como "a primeira empresa nacional a actuar nas fases mais iniciais de descoberta de novos fármacos". Basicamente, desenvolve plataformas tecnológicas que permitem identificar, de forma mais rápida e eficiente do que é habitual, novos compostos farmacológicos. O potencial terapêutico visa a aplicação em doenças neurodegenerativas e do sistema nervoso central. A média de idade dos colaboradores – dos quais quase um terço corresponde a doutorados – da empresa ronda os 28 anos e as mulheres são em número superior aos homens. O modelo de negócio da Bioalvo assenta nas parcerias (tanto com o sistema académico como com o empresarial) e, desta forma, está actualmente em processo de avaliação de eventuais parcerias a estabelecer com três das maiores empresas multinacionais do sector farmacêutico.
Fibersensing
Localização: Maia
CEO: Pedro Alves
É um dos "spin-off" universitários de base tecnológica mais conhecidos: cresceu a partir do INESC-Porto e formalizou-se em Abril de 2004, centrando a respectiva actividade no fabrico de sensores de diversa ordem – podem ser embutidos na coluna de uma ponte, para medir esforços, por exemplo. Na génese da empresa, sobressai um investimento de 3,6 milhões de euros – os accionistas são o INESC Porto, os próprios promotores, a PME Capital e a PME Investimentos. Para 2007, a Fibersensing prevê facturar dois milhões de euros, que representam a labuta dos actuais 24 colaboradores. Entre os diversos projectos de monitorização em que está envolvida, a empresa vai actuar no Túnel do Rossio: a Fibersensing vai calcular a medição entre a distância das paredes da obra, para medir as deformações e calcular as convergências. O algoritmo aplicado na tecnologia a empregar no túnel foi desenvolvido por um professor do Instituto Superior Técnico. Anualmente, a empresa investe 600 mil euros em desenvolvimento de produto.
TimeBI
Localização: Cantanhede
CEO: Paulo Dimas
A empresa ilustra com um "slide" o produto principal que quer "oferecer" ao mercado: uma fotografia de uma cena de trânsito na auto-estrada, em que de um lado a circulação ocorre normalmente e, na faixa oposta, é o desespero que se ocupa de uma série de condutores envoltos de um trânsito profundo. Para solucionar o "stress", a ansiedade e o tempo perdido – e fazer com que os clientes estejam sempre no lado da estrada em que não há trânsito –, a empresa tem uma proposta que recomenda, em tempo real, o melhor caminho a seguir – o produto designa-se "time2time". Os empreendedores desenvolveram um algoritmo de predição de tempos, que calcula o tempo estimado de chegada a um local, ao identificar o melhor caminho, alertando sempre quando há alterações súbitas no trânsito. Há três formas de utilizar o "software": através do computador, de um telemóvel da nova geração ou de um telemóvel mais antigo. O sistema permite também saber a quanto tempo estamos de uma pessoa e onde está essa mesma pessoa - útil, por exemplo, para pais preocupados.
Fluidinova
Localização: Maia
CEO: José Carlos Lopes
Em Outubro de 2005, e após 15 anos de docência e investigação que se cruzaram com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, José Carlos Lopes deu forma a um sonho sustentado nos fundamentos da engenharia química – a "Fluidinova". A evolução de ideias para um negócio começou em 2004, quando o projecto beneficiou de um encontro com um 'business angel' – a Gestluz Consultores. A mais recente aposta da empresa assenta numa tecnologia – chama-se "NETmix" – que permite produzir hidroxiapatite (material básico do osso humano) sobre a forma de nanopartículas (são mil vezes menores que o diâmetro de um cabelo). Esta tecnologia acabou por dar origem a um produto designado "NanoXIM•HAp70", que permite, entre outras aplicações, que a radioactividade não seja distribuída pelo corpo todo durante a quimioterapia. A produção do NanoXIM•HAp70 implica o desenvolvimento de um laboratório industrial, que vai ser responsável pelo aumento do capital da Fluidinova para 1,3 milhões de euros (é actualmente de 100 mil euros ).
ReD
Localização: Porto
CEO: Marta Malé-Alemany e José Pedro Sousa
Ainda que a sigla indique foneticamente "vermelho" em inglês, significa Research+Design. Com uma ponte em Barcelona, tendo em conta que é na cidade de Gaudi que assenta uma das promotoras do projecto – Marta Malé-Alemany –, a ReD (a empresa ainda está por criar) diz-se vocacionada para "o projecto, investigação e serviços nos sectores da arquitectura, construção e design industrial". A sustentar a aposta, o projecto recorre a tecnologias digitais para testar, desenvolver e implementar os conceitos mais imaginativos da arte de construir e projectar construções. Após três anos de experiência prática de colaboração entre os promotores, a empresa está em fase de consolidação, mas tem já trabalhos desenvolvidos e em curso nos Estados Unidos, Áustria, Espanha, Portugal e Itália. No "portfolio", inclui o desenvolvimento de maquetas para Frank Gehry. As parcerias a angariar para o estabelecimento do projecto empresarial passam por financiamentos bancários, canais comerciais e entidades do sistema científico e tecnológico.