FILÓSOFOS DA DESTRUIÇÃO CRIATIVA
Alguns dos meus amigos sabem que sou 'dono' de uma disciplina chamada Inovação & Competitividade, criada pelo meu 'empresário', há uns anos para os M.B.A.s que anualmente são lançados no I.E.S.F. (V.N.GAIA).
Todos os anos muda a abordagem com que faço o ataque aos temas e obviamente, umas vezes fico mais perto da meta, outras nem por isso.
Recentemente, fui convidado para apresentar este número num curso com outras características – empatia excelente com a generalidade dos alunos – tendo pegado pela primeira vez, levemente, numa questão mais teórica e que entronca na génese do pensamento inovativo. Regressemos hoje, ao ponto de partida!
A traço grosso, mesmo aqueles como nós, que não possuímos background consolidado em filosofia, nem em história económica, mas que no mínimo leram Fernand Braudel (onde andarão esses livros?), percebem que até ao século XIX o trabalhador exercia o seu mester isoladamente e produzia artefactos um a um. Algures no meio dessa base de tempo, as coisas mudaram dramaticamente. As pessoas começaram a trabalhar em grupos de artesãos, produzindo cópias do mesmo produto aos milhares e todas iguais. As instruções passaram a ser dadas de cima para baixo, seguindo um roteiro hierarquicamente definido e pondo em prática um esquema de vigilância que lidava com o fluxo de informação no sentido inverso, ou seja, de baixo para cima. As pessoas passaram a criar riqueza com ponto de partida no capital.
Karl Marx (e não só…) propôs uma descontinuidade no modo organizativo e proprietário das instruções e das máquinas, suportes da tecnologia aplicada.
Marx contrapôs ao pedido dos donos dos equipamentos fabris que, permanentemente, solicitam mais resultados com menores custos, pelo menos, salários dignos para os trabalhadores e mais respeito pelo esforço dispendido por estes.
Schumpeter é fundador de um conceito cuja proposta essencial é o processo da destruição criativa, empurrando assim, eficazmente, as ideias padrão sobre a mudança económica. Primeiro, a evolução económica não é um processo simples do crescimento, em que todos os sectores da vida económica se expandem de uma maneira equilibrada. Em vez disso, é caracterizada pela criação de coisas novas e pela destruição de produtos e processos obsoletos. Além disso, muitas das empresas e outras organizações existentes, não conseguem promover e actualizar continuamente, as respectivas competências e comutar algumas ou todas as suas áreas de especialização. Assim sendo, fazem perigar a maior parte das vezes, o seu próprio processo evolucionário. Finalmente, os profissionais que perdem o seu trabalho (emprego) mergulham num 'stress' inimaginável e assumem perdas significativas de bem-estar, que parecem bem mais óbvias do que as propagandeadas vantagens a longo prazo da evolução capitalista. Estas reacções constituem um desafio permanente às instituições do capitalismo. Assim, o processo da destruição criativa é um conceito que reflecte o esforço do competidor (concorrente) e uma atitude de concentração nas reacções às perdas provisórias do bem-estar a nível micro e macro da economia. Embora o conceito de Schumpeter sobre o processo da destruição criativa, descreva eficazmente a sua própria visão básica da evolução do capitalismo – Schumpeter nasce no ano da morte de Karl Marx - e embora seja comum, falar da destruição criativa na literatura do business e da estratégia, é ainda uma pergunta em aberto, se é ou não, um conceito operacional. Schumpeter escreveu em 1942 sobre a destruição criativa como sendo o coração do progresso, mas em 1947 reconsiderou o seu slogan mais avançado e substitui a mensagem por: `resposta criativa' em vez de colocar ênfase na palavra destruição. Esta solução, entretanto, ignora o facto de que, Schumpeter nunca abandonou a sua visão da destruição criativa. No paper de 1947: Schumpeter, Joseph A. (1947), The creative response in economic history, Schumpeter (1989), pp. 221–231 , Schumpeter enfatizou a resposta criativa porque estava envolvido no lançamento do Harvard Research Center in Entrepreneurial History, mas ainda assim, considerou isto como um aspecto limitado do processo total da destruição criativa.
Recentemente, fui reler o que se diz sobre Drucker,homem de sete ofícios: economista, analista financeiro, jornalista, conferencista, consultor, autor e professor.
«Foi igualmente um homem marcado pela influência de várias culturas. Nasceu na Áustria , fez os estudos na Alemanha (até ao regime nazi ter chegado ao poder) e trabalhou na City londrina . Nos E.U.A. foi considerado o grande embaixador da tradição intelectual europeia.
Foi Drucker quem inventou a Gestão como disciplina e definiu as funções do gestor moderno. Foi um dos raros pensadores que se pode gabar de ter mudado o mundo com as suas ideias ao inventar conceitos como as (re)privatizações, a gestão por objectivos ou a descentralização nas empresas.
O maior legado de Drucker está, porém, na sua capacidade de interpretar o presente e de perceber as suas implicações para o futuro. Drucker tinha a capacidade de vislumbrar as tendências que irão produzir mudanças na sociedade, na economia e nas empresas. A ele se deve o diagnóstico de “descontinuidades” como a ascensão dos fundos de pensões no capital das empresas cotadas ou a emergência dos trabalhadores do conhecimento.
Foi o primeiro a alertar que os trabalhadores são os donos do activo (o conhecimento) mais precioso da sociedade actual que ele apelidou de “pós-capitalista”.
Acima de tudo, tornou a Gestão uma disciplina séria e respeitada, e acessível a milhões de pessoas.
Na sua visão, a Gestão é uma disciplina prática e humanista. É uma “arte” que se alimenta de ciências como a Economia, Psicologia, História, Matemática, Teoria Política e Filosofia. E é também uma prática – como a Medicina – no sentido em que não interessa se o tratamento é, ou não, científico, mas sim se cura o doente.
No seu entender, a gestão é fundamentalmente uma ciência social que lida com pessoas e cujo âmbito não se confina ao mundo empresarial.»
BILL GATES
Bill Gates é um personagem distinto dos filósofos idolatrados acima. BG é o homem que personifica a aplicação das ideias de Schumpeter. Descobri a escrita de Bill Gates quando estava uma tarde no Parque Tecnológico de Alava e tinha todo o tempo do mundo comigo. Deve ter sido um dos últimos livros em que peguei, das estantes da sala de Direcção.
Business @ the Speed of Thought: Succeeding in the Digital Economy, publicado em 1999 pela Warner Books
Claro que fui enviesado pelo tom revolucionário com que Bill abordava a questão INTERNET – o tema apaixonante da minha vida profissional – mas outros escritos que procurei mais tarde, mostraram-me face diversa do modo como BG trata o seu próprio mundo, contando as histórias como aqueles (vaidosos) que viveram algumas delas, gostam que elas se contem, ou seja, com encontros e desencontros.
Os meus problemas e guerras pessoais com Bill Gates entroncam na primeira derrota daqueles de quem gosto, com quem me identifico, causas que abracei, vidas que vivi, como foi a primeira vitória de Bill Gates sobre a I.B.M.
Mais tarde, renasci e recriei-me sob o signo da maçã, ganhei outras feridas no seio da guerra APPLE versus MICROSOFT e vestindo uma camisola cada vez mais rota, fui saindo da arena e procurando outros colos. Não admira que Bill Gates não tenha sido muitos e bons anos, referência das minhas leituras. Hoje, alguma coisa está mudada: não porque considere BG um génio da tecnologia; o que BG é indubitavelmente é o génio da aplicabilidade das ideias de Schumpeter.
Volto a estar dividido de novo, de um lado o coração: GOOGLE, do outro lado a admiração: MICROSOFT.
Quem quiser perceber de facto, o que é o conceito da destruição criativa, tem que estudar o desenvolvimento da Microsoft, o seu constante vai-não-vai à luta, até o modo como BG aplicou na prática o conceito de responsabilidade social e o comunica à sociedade através da sua Fundação.
Tudo se muda, sim… mas no momento oportuno e com a tecnologia apropriada, parece mostrar o pensamento dirigente de BG que, no seguimento de outro fantástico crânio: Andy Grove (INTEL) sublinha a importância dos chamados 'pontos de inflexão', onde a tecnologia gera "súbitas e avassaladoras" alterações, mudanças e convulsões.
Há na MICROSOFT, produto resultante da prática de alguns pensamentos de Schumpeter e de Drucker – mesmo que subliminarmente - uma base mínima de princípios e valores que importa reter, difundir e comunicar:
- Mestria pessoal . Esperar que as pessoas desenvolvam a sua capacidade individual para poderem atingir os seus objectivos pessoais e os da empresa. Esta, está preparada para incentivar o esforço individual.
- Modelos Mentais. Desenvolver o 'estado de espírito' apropriado para conduzir acções e decisões.
- Visões partilhadas . Empenho de todos os membros da organização nos seus objectivos e meios a atingir.
- Aprender em equipa . Explorar o facto do pensamento em grupo ser melhor que a soma das partes individuais.
- Pensamento sistemático . Agir com a percepção que as acções e decisões não podem ser isoladas, mas têm ramificações e implicações que dizem respeito a toda a organização.
linha de cima: Steve Wood (left), Bob Wallace, Jim Lane. Ao centro: Bob O'Rear, Bob Greenberg, Marc McDonald, Gordon Letwin. linha de baixo: Bill Gates, Andrea Lewis, Marla Wood, Paul Allen. December 7, 1978